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Impressões sobre Livros e Filmes

Impressões sobre obras: Citação
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A ORIGEM

Já imaginou como seria se você pudesse controlar de alguma forma as coisas que você sonha? Fantástico, não é? Pois bem, essa é a premissa do filme “A Origem” (Inception) obra lançada em 2010 e escrita e dirigida por ninguém menos que Christopher Nolan, responsável por clássicos como a trilogia do Cavaleiro das Trevas, Tenet, Oppenheimer e pela obra-prima, Interestelar, o que já mostra que o filme não é pouca coisa.

O enredo aborda a história de Dom Cobb (Leonardo DiCaprio), um especialista em manipular os sonhos das pessoas através de técnicas de indução e uso de elementos químicos, que é contratado pelo empresário japonês Saito (Ken Watanabe) para invadir os sonhos do filho de seu rival, o jovem Robert Fischer (Cillian Murphy), a fim de implantar em sua mente uma ideia que o levará a dividir o império empresarial do pai, dando a Saito uma oportunidade de adquirir uma parte das posses de seu concorrente.

Cobb reúne então uma equipe reunida por antigos parceiros de trabalho, que têm como função desde a arquitetura do sonho a ser implantado na mente do jovem empresário, até a produção de sedativos que levam o alvo a cair num estado de inconsciência que permite a invasão dos sonhos por parte dos agentes.

Complexo, não é?

Mas não tão complexo quanto a mente humana, algo que logo constatamos quando Cobb começa a enfrentar obstáculos criados pela própria psique de seu alvo, que possui mecanismos de defesa que ataca impiedosamente os invasores, fazendo com que enfrentem os mais variados tipos de problema.

É nesse momento que Cobb tem que enfrentar um óbice criado por sua própria mente, que é a lembrança de sua falecida esposa Mal (Marion Cotillard), que volta para atormentá-lo e reavivar o trauma que este possui por ter sido indiretamente responsável pela morte dela, já que ambos haviam feito aquele experimento em si mesmos, passando a habitar em sonhos pelo que em suas mentes pareceram ser anos a fio, e quando finalmente deixaram aquela ilusão, Mal não conseguiu se adaptar à realidade, e acabou se matando achando que ainda estavam num sonho.

Acusado injustamente pela morte da esposa, Cobb teve que fugir do EUA, sendo obrigado a ficar longe dos filhos, até que recebe a proposta de Saito, que além do pagamento pelo trabalho, promete ainda livrá-lo das acusações para que volte ao seu país e se reúna novamente com as crianças.

É nessa complexa trama que vemos a equipe não apenas no sonho de uma pessoa, mas trafegando e interagindo também com várias camadas desse mesmo sonho, como se fossem diversas realidades dentro de uma mesma história.

Ao chegarem nesse ponto a realidade e o imaginário se confundem, levando o interceptor a chegar a pensar que está em um cenário real, quando na verdade está sonhando, o que obriga os participantes da empreitada a usarem uma espécie de totem que lhe mostra se estão dentro de um sonho ou se já acordaram. No caso de Cobb, esse totem é um pequeno pião que ao ser girado revelará que seu dono está sonhando se não parar de girar, ao passo que se parar mostrará que ele já despertou.

O filme trás a complexidade repleta de teorias bem elaboradas e amarradas por Nolan com sua costumeira genialidade, e que ganha contornos ainda mais emocionantes com a trilha sonora inesquecível de Hanz Zimmer, cuja genialidade pode ser vista em diversos outros trabalhos, a exemplo da trilogia de Batman, da séries de filmes Piratas do Caribe e, claro, Interestelar.

A origem é um filme para se assistir com calma e atenção, e que mostra que em nossa busca por um mundo ideal podemos acabar perdidos se sonharmos demais e esquecermos da realidade que nos cerca.

 Assistam. É imperdível.

Papel reciclado

Sonho de Uma Noite de Verão

Já ouviram ou leram alguma história sobre fulano, que ama sicrana, que ama beltrano a quem na verdade gosta de Maria? Uma confusão, não é? Pois bem, essa passagem foi inicialmente trabalhada em “Sonho de uma Noite de Verão” (A Midsummer Night’s Dream), clássica peça escrita por ninguém menos que William Shakespeare entre os anos de 1594 e 1596 na Inglaterra da Era Elizabetana.

A peça, posteriormente transformada em livro, tem início com um imbróglio envolvendo os personagens de Hérmia, Lisandro e Demétrio. Lembram da confusão citada mais acima? Pois bem, ela tem origem nesse conflito.

A questão é que Hérmia e Lisandro estão apaixonados, mas Demétrio também ama aquela jovem, e por outro lado é amado por Helena, que é ninguém menos que a melhor amiga da moça inicialmente citada. Começaram a perceber a confusão que se desenrola a partir daí?

Na peça, Demétrio, que é amado por Helena, não abre mão de ter seu amor correspondido por Hérmia, que ama Lisandro, cujo sentimento por ela é recíproco, mas o pai da jovem, Egeu, não admite a relação entre os dois, e insiste com que a filha se case com Demétrio, a quem está prometida.

Chamado para resolveu o problema, o Duque Teseu, que está prestes a se casar com Hipólita, dá a Hérmia um prazo para que ela decida o que quer fazer. Abandonar Lisandro, a quem ama, e casar com Demétrio, de quem não gosta, morrer, ou converter-se e abandonar os homens, optando por morrer na solidão.

Triste com aquela decisão, Hérmia decide fugir em segredo com Lisandro, e é nesse ponto que entra Helena, sua melhor amiga, que ama tanto Demétrio que acaba contando a ele sobre a fuga de sua amada, apenas para ter um pouco de sua admiração.

Furioso, Demétrio parte atrás de Hérmia e Lisandro, sendo também seguido por Helena, e uma vez dentro da floresta os jovens acabam entrando no domínio dos Elfos e das fadas, que têm como reis Oberon e Titânia.

Ocorre que Oberon, que não está na melhor das fases com Titânia em virtude de uma disputa que fez tremer a relação entre ambos, resolve pregar uma peça nela, e para isso pede o auxílio de Puck, um ser que apronta todo tipo de travessura. A proposta é colocar uma poção mágica nos olhos da rainha para que ela se apaixone pelo primeiro ser que encontrar pela frente, a fim de distraí-la e assim conseguir vencer a disputa.

Enquanto estão tramando aquele plano, Oberon vê a chegada de Demétrio e Helena, e percebe como este a trata mal, ao passo que ela o ama loucamente. Incomodado com aquilo ele instrui o ser a colocar um pouco da poção mágica nos olhos do rapaz, para que ele acabe se apaixonando pela moça e correspondendo o amor dela.

No entanto, quando vai atrás de Demétrio pouco depois, Puck o confunde com Lisadro, que também está na floresta, e aplica nele a poção do amor. O problema é que logo em seguida Lisandro vê Helena, por quem se apaixona completamente.

Percebendo o erro da criatura, Oberon aplica ele próprio a poção nos olhos de Demétrio, que vê Helena e também se apaixona por ela. Agora ambos os rapazes amam a moça que não era amada por ninguém, enquanto Hérmia, que era amada por ambos, passa a ser a rejeitada da história, e aí a confusão se instala de vez.

Em todo esse imbróglio ainda vemos Titânia se apaixonando por Nick Boltton, membro de uma trupe de teatro que está ensaiando na floresta para encenar uma peça no casamento do Duque Teseu com Hipólita, e como ama aprontar travessuras, Puck transforma o jovem para que ele fique com a cabeça de um burro, fazendo assim a rainha das fadas se apaixonar por aquela nova e estranha criatura.

Quer confusão maior do que essa? Acho que só falando de política no meio da ceia de Natal, não é mesmo?

Bem, o que acontece a partir daí vocês terão que descobrir lendo a história, e tudo o que posso dizer é que a obra é divertida do começo ao fim, trazendo a todo momento o talento único que Shakespeare possuía não apenas para o romance, mas também para o drama e a comédia, gêneros que estão presentes em toda a narrativa, e que se intercalam num dinamismo contagiante, que prende constantemente a atenção do leitor.

“Sonho de Uma Noite de Verão” tem drama, magia, romance e principalmente comédia, sendo uma leitura que salta aos olhos e que encanta do princípio ao fim, o que em se tratando de algo que foi escrito por Shakespeare, não se mostra como nenhuma surpresa.

Leia, divirtam-se, e se deliciem com esse clássico.

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O Dia do Curinga

Imagine uma história dinâmica, emotiva, com um enredo interessante e criativo que aborda a complexidade da vida e das relações familiares, te fazendo perguntar-se qual o lugar do ser humano no universo, e de quebra ainda traz diálogos filosóficos e de fácil acesso mesmo para as pessoas que nunca estudaram o tema. Imaginou? Se interessou? Pois então corra e vá ler “O Dia do Curinga”, porque esse livro abrange todos os temas citados acima.

Publicado em 1990 e escrito por Jostein Gaarder (mesmo autor de “O Mundo de Sofia”), o livro nos apresenta a história de Hans-Thomas, um garoto norueguês de doze anos que parte junto com o pai em uma viagem pela Europa com destino à Grécia, onde descobriram que mora sua mãe, a mulher que os deixou oito anos antes para, segundo ela mesma, se encontrar.

Durante a viagem, Hans-Thomas e o pai param em um posto de gasolina na estrada para pedir informações, momento em que um curioso anão lhes indica o caminho para um povoado chamado Dorf, e entrega ao menino uma lupa que diz ter sido feita por ele mesmo com um pedaço de vidro que encontrara no estômago de um cervo.

Intrigado com aquele estranho presente o garoto continua a viagem com o pai, compartilhando momentos de diálogos e reflexões filosóficas, o que mostra-se como sendo uma prática corriqueira entre eles.

Assim que chegam em Dorf, Hans-Thomas deixa o pai bebendo na estalagem (a história mostra que o homem está a um passo do alcoolismo, o que preocupa constantemente o filho), e sai explorando o povoado, até encontrar uma padaria em que se admira com um peixe multicolorido dentro de um aquário em que curiosamente falta um pedaço de vidro do mesmo tamanho e medida da lupa que ele ganhou do anão.

Ao ver que o garoto possui a lupa, o padeiro o convida a entrar, e em meio à conversa que mantém os dois acabam descobrindo que têm mais em comum do que imaginavam. O velho então presenteia o menino com quatro pães doces, e diz a Hans-Thomas para comer o maior deles apenas quando estiver sozinho, dizendo ainda que voltaria a encontra-lo, oportunidade em que lhe serviria a bebida mais gostosa que já tomara na vida.

Ao ficar só, Hans-Thomas decide comer o maior pão, e se espanta ao encontrar dentro dele um livro minúsculo, com letras igualmente pequenas, que curiosamente só pode ser lido com a lupa que recebeu do anão no meio da estrada. O garoto então começa a ler o tomo, e a partir daí embarca em uma viagem fantástica onde adentra em mundos fantasiosos repletos de personagens interessantes, que acabam lhe revelando muito mais sobre ele mesmo do que sabia até então.

“O Dia do Curinga” nos traz uma leitura emotiva, rápida, e mesmo ao tratar de temas existenciais e filosóficos que à primeira vista aparentariam uma complexidade mais profunda, o faz de forma leve, explanando tais conceitos de um modo direto e divertido, que ensina e prende a atenção do leitor enquanto este também viaja com Hans-Thomas, torcendo para que ele reencontre a mãe e a convença a voltar para casa, ao mesmo tempo em que tem que lidar com os problemas do pai e ajuda-lo a melhorar enquanto ser humano.

Um livro leve, emocionante e ao mesmo tempo profundo.

Uma leitura que merece ser saboreada.

Leiam!

Papel reciclado

Ben-Hur

Lançado em 1959 como uma refilmagem de outro longa de 1925, ambos baseados no romance escrito por Lew Wallace, “Ben-Hur: A Tale of the Christ”, Ben-hur conta a história do personagem de mesmo nome, Judah Ben-Hur (vivido pelo saudoso e inesquecível Charlton Heston), um rico príncipe judeu que vive na cidade de Jerusalém durante o domínio romano, apenas alguns anos antes do início das pregações de Jesus.

Além de rico Ben-Hur é um homem conceituado, tendo como amigo de infância o Tribuno Militar romano chamado Messala, que depois de anos fora de Jerusalém volta à cidade como comandante de uma das guarnições do exército, ansiando por aumentar a glória de Roma, de quem é um ferrenho defensor.

Durante um desfile militar em homenagem ao novo governador da Judeia, algumas telhas caem da casa de Ben-Hur, que assistia pacificamente a toda aquela movimentação. O acidente por pouco não mata o governador, e Judah é injustamente acusado de tentativa de assassinato, acirrando ainda mais os ânimos que já não eram pacíficos em virtude do domínio de Roma e da resistência do povo judeu.

Vendo ali uma oportunidade de aumentar o poder de Roma e ao mesmo tempo intimidar os judeus, Messala não aceita a explicação de Ben-Hur, e deixando de lado uma amizade de infância condena-o à escravidão, esperando que aquilo sirva de exemplo de sua devoção, bem como da força do império romano.

 Impiedoso e arrogante, Messala também condena à prisão a mãe e a irmã de Ben-Hur, enviando ainda o amigo de infância para a escravidão nas galés. Furioso com tamanha traição Judah jura vingança, e mesmo sofrendo uma série de agruras como escravo, sobrevive movido pelo ódio e pelo desejo irrefreável de se vingar do homem que o traiu.

Tudo começa a mudar quando em meio a uma batalha com piratas macedônios, Ben-Hur consegue salvar da morte o cônsul romano Quinto Arrio, que acaba por libertá-lo e adotá-lo como filho, dando a Judah a condição e todos os direitos de um cidadão de Roma. Com o tempo ele acaba se tornando também um exímio campeão das famosas corridas com bigas, e acaba voltando para a Judeia a fim de reencontrar a mãe e a irmã, sem esquecer em momento algum o desejo de vingar-se de Messala.

No caminho Judah se depara com um dos Três Reis Magos, Baltasar, e a todo momento ouve falar de um Pregador Nazareno chamado por muitos de Messias, que leva ao mundo uma mensagem de paz, e não de ódio, que é exatamente um dos sentimentos que move Ben-Hur em sua jornada.

Mas chegando na Judéia ele se depara com a notícia de que a mãe e a irmã também tinham sido presas por Messala, e depois libertadas para serem enviadas a um leprosário, já que na prisão haviam sido contaminadas com a lepra, doença mortal e incurável naquela época.

Cego de raiva Ben-Hur aceita guiar os cavalos do amigo e Xeque árabe Ilderim em uma disputa em que Messala também está competindo, e acaba entrando em uma frenética corrida de bigas na Judeia, em uma sequência que até hoje é considerada como sendo uma das maiores cenas da história do cinema.

E o restante pode ser conferido quando vocês assistirem o filme.

Mas o ponto alto de Ben-Hur não está nas sequências de biga e nem na jornada em busca de vingança, e sim nos encontros que o mesmo tem com um Nazareno que tinha começado a surpreender a muitos.

Em diversos momentos o caminho de Ben-Hur cruza com o de Jesus Cristo, que chega a ajudar-lhe dando-lhe um pouco de água no exato momento em que Judah está acorrentado como escravo, a caminho das galés. O encontro se repete anos depois, em uma emocionante cena em que entrega àquele mesmo Nazareno um pouco de água enquanto Ele carrega uma Cruz com os pecados do mundo.

Judah ainda chega a presenciar a pregação do sermão da montanha, tendo naquele momento o desejo de vingança confrontado com a paz pregada por Jesus, e no filme ainda pode-se ver um milagre no exato momento em que Cristo é crucificado, e que acaba mudando para sempre a vida de Ben-Hur.

Para além de uma história de vingança, o filme é principalmente uma lição de paz, especialmente quando Judah finalmente entende os ensinamentos de Jesus e tem a oportunidade de pô-los em prática diante do homem que passara a odiar com tanta força.

A obra ganhou uma nova roupagem recentemente, em 2016, tendo o brasileiro Rodrigo Santoro no papel de Jesus, que desta vez aparece bem mais do que no filme de 1959.

Mas apesar de bom, o novo filme não iguala a grandiosidade daquele que foi dirigido por Lew Wallace e teve em seu elenco o inesquecível Charlton Heston, faturando nada menos que onze estatuetas do Oscar, recorde que nunca foi superado, e que só foi igualado por Titanic (1998), e O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei (2003).

Nessa data tão especial, marcada pela maior prova de amor de todos os tempos, a história é uma excelente oportunidade de ver o quão grandiosa é a capacidade de perdoar, especialmente quando ensinada por Alguém que perdoou aqueles que o humilharam e o mataram, e que deu sua vida por nós em expiação de nossas falhas.

Vale muito à pena.

Assistam, e tenham uma Feliz Páscoa.

Que DEUS os abençoe.

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Mulher-Maravilha

Como o bom nerd que sou, não poderia deixar de prestar homenagem ao dia da mulher citando essa heroína, que faz parte de um dos maiores grupos de Super-heróis de todos os tempos e que representa a força e a nobreza inerentes a todas as mulheres.

Lançado em 2017, dirigido por Patty Jenkins e tendo como estrela no papel principal a atriz israelense Gal Gadot, “Mulher-Maravilha” (Wonder Woman) é a primeira adaptação para os cinemas de uma das maiores personagens da DC Comics, editora responsável pelas publicações de medalhões como Batman, Super-Homem, Flash e vários outros super-heróis de peso.

Além da importância de ser a primeira adaptação para os cinemas que de fato deu a devida importância e posição de protagonista a uma heroína de peso (sorry Marvel), o filme também foi sucesso de público e de crítica, valorizando ainda a diretora Patty Jenkins, que fez um excelente trabalho, ajudando assim a consolidar ainda mais a posição das mulheres em um meio que é ainda ocupado quase que predominantemente por homens.

O filme conta a história de Diana Prince (Gal Gadot), ou Diana de Temyscira, sendo este o nome dado a uma ilha escondida do restante da humanidade que é habitada pela raça de guerreiras conhecidas como Amazonas, sendo a própria Diana uma delas.

Filha da rainha Hipólita (Connie Nielsen), Diana inicialmente é proibida de ser treinada nas artes da guerra, mas depois de muita insistência acaba convencendo a mãe a mudar de ideia, e com o tempo se torna uma das maiores Amazonas da ilha, até o dia em que um acidente faz com que o avião do jovem Capitão Steve Trevor (Chris Pine), piloto das Forças Expedicionárias Americanas (a história se passa durante a primeira guerra mundial), acabe caindo perto da ilha que até então era oculta.

Perseguido por soldados alemães que logo são eliminados pelas Amazonas, Trevor é interrogado por Diana, revelando o conflito brutal que está assolando o mundo enquanto as guerreiras se mantêm no anonimato, e desconfiada de que é um antigo inimigo delas que está por trás do conflito, a protagonista resolve ajudar o piloto, partindo com ele para o mundo exterior.

A partir daí vemos o choque cultural pelo qual Diana passa, não apenas com a violência com que os humanos tratam uns aos outros, mas também com o menosprezo e o desrespeito que possuem com as mulheres, que são relegadas a uma posição sem voz ativa em uma sociedade completamente controlada pelos homens, o que é algo inteiramente fora do comum para ela.

Ao mesmo tempo Diana se envolve com Trevor, e aos poucos passa a simpatizar com a humanidade, que sofre com os conflitos e penúrias pelos quais é obrigada a passar. A partir de então, passa a integrar o grupo de soldados do qual Steve faz parte, ajudando-os para pôr um fim em toda aquela guerra.

O filme evidentemente não deixa de explorar a importância da mulher e a forma como ela é constantemente relegada a um papel sem relevância na sociedade, colocada sempre em segundo plano em uma posição na qual é limitada a ser mãe e esposa, ao passo que a ilha que abriga as Amazonas demonstra de forma clara onde realmente as mulheres podem chegar, apresentando a antítese de como as coisas são, e de como elas poderiam ser.

A força da personagem, que é uma das colunas da tríade de super-heróis da DC Comics, dividindo espaço e importância com o Batman e o Super-homem, é amplamente retratada no filme, que respeita por completo a personagem criada em 1941 pelo psicólogo William Moulton Marston e por sua esposa, a advogada Elizabeth Marston, que defendiam que a mulher deveria ser livre e independente para fazer suas escolhas e ascender na sociedade.

Mulher Maravilha foi sucesso de público e crítica, consolidando a carreira da atriz Gal Gadot e da excelente diretora Patty Jenkins, mostrando-se ainda como um filme divertido e inteligente que finalmente deu o devido lugar de protagonismo a uma personagem feminina adaptada dos quadrinhos, pavimentando o caminho para outras obras do gênero que passaram a valorizar a mulher como ela de fato deve ser valorizada.

Vale à pena assistir.

Papel reciclado

Esqueceram de Mim

E como falar de Natal sem lembrar desse clássico da Sessão da Tarde e da década de 90, que marcou a infância de muita gente, incluindo a minha? Então vamos a ele.

Lançado em 1990, dirigido por Chris Columbus e escrito e produzido por ninguém menos que o saudoso John Hughes (o homem era uma máquina de fazer clássicos, tendo no currículo Curtindo a vida adoidado, Mulher nota 1000, A Garota de Rosa Shocking, Clube dos Cinco, Gatinhas e Gatões, e só para citar alguns), “Esqueceram de Mim” (Home Alone) conta a história de Kevin McCallister (Macauley Culkin), um garotinho que depois de discutir com a mãe acaba sendo esquecido em casa pela família, que viaja para a França e o deixa sozinho dias antes do natal.

Kevin então tem que lidar com os obstáculos de ficar sozinho em uma casa enorme, tendo de se virar para fazer a própria comida e dar conta de outras demandas domésticas, mas esse não é o maior problema. Sem que o garoto saiba, dois pilantras atrapalhados estão planejado invadir sua casa e levar tudo o que tem dentro, achando que todos viajaram e não há ninguém no local.

Mas os bandidos Harry (Joe Pesci) e Marv (Daniel Stern) acabam descobrindo que o menino está em casa, e achando que estão lidando com um pirralho comum decidem invadir o local mesmo assim. Ledo engano.

Kevin é esperto, ágil e logo percebe as intenções dos bandidos, elaborando um divertido plano para defender sua casa a qualquer custo, que vai acabar arrancando alguns gritos dos ladrões, e várias risadas da plateia. Já na França, os pais desesperados de Kevin tentam voltar para os EUA, e apenas sua mãe Kate McCallister (Catherine O’hara) consegue uma passagem de avião, tendo de encarar ainda uma viagem cheia de escalas pelo país até que consiga chegar em casa.

Nesse ínterim Kevin ainda encontra tempo para ajudar seu vizinho, o Senhor Marley (Robert Blossom), um homem que causa calafrios nas crianças da vizinhança, mas que o garoto acaba descobrindo ser apenas um gentil velhinho que apenas quer se reconciliar com o filho e conviver com a neta, mostrando que julgar pela aparência não é a melhor das decisões.

Mas o melhor do filme são os planos mirabolantes de Kevin e o prejuízo que eles causam aos ladrões que invadiram sua casa, conseguindo no fim de tudo fazer com que sejam presos, e reencontrando ainda sua família exatamente no dia do natal em uma cena emocionante.

Esqueceram de Mim é um filme que marcou época, e que sabe dosar na medida certa comédia e emoção, com um conjunto de atuações excelentes, destacando-se, claro, as do à época astro mirim Macauley Culkin, e de Joe Pesci (ótimo como sempre) e Daniel Stern como a dupla atrapalhada de bandidos. A obra teve ainda uma sequência, “Esqueceram de Mim 2”, em que Kevin se perde na cidade de Nova York, tendo que lidar novamente com a dupla atrapalhada de bandidos, mas essa é outra história.

Um excelente trabalho de direção de Chris Columbus com uma história do incontestável John Hughes, que deixou muita saudade com sua partida precoce em 2009.

Um filme de comédia dinâmico e divertido, que não perde de vista a emoção dessa época do ano, e que marcou gerações com uma história emocionante e engraçada. Vale muito à pena.

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Morte no Nilo

Agatha Christie. Provavelmente você já ouviu esse nome em algum lugar, e caso não tenha ouvido, sugiro que corra até a primeira livraria e compre uma das inúmeras obras de mistério dessa saudosa e inesquecível escritora, que nos deixou um riquíssimo acervo em livros, pouco igualado por outros escritores.

E uma dessas obras é “Morte no Nilo”, onde a autora deixa sua assinatura no estilo que tanto a consagrou.

A história traz aquele que talvez seja o maior personagem já criado pela escritora, o inspetor belga Hercule Poirot, cuja presença é vislumbrada em diversos livros da autora. Sagaz, charmoso e com um humor peculiar (além do bigode inconfundível, é claro), nesta história Poirot se vê em meio a um misterioso assassinato ocorrido em um navio que fazia um cruzeiro pelo Rio Nilo, no Egito.

A vítima, Linnet Ridgeway, uma jovem rica da alta sociedade de Londres, cuja beleza e fortuna são invejadas por muitas pessoas, sendo algumas delas as que estão no barco onde ocorre o crime, é misteriosamente assassinada quando está sozinha em seu camarote.

Chamado a assumir o caso em virtude da fama que o precede, Poirot passa a investigar todos os suspeitos, descartando alguns e incluindo outros em uma trama repleta de reviravoltas onde o leitor, quando pensa que está perto de descobrir quem cometeu o crime, acaba constatando que na verdade está bem longe disso.

Na trama Poirot descobre que apesar da pouca idade a jovem já era odiada por um bom número de pessoas, em parte pela inveja que sentiam de sua beleza e status social, e em parte pelas atitudes da própria vítima, sendo uma delas a de ter roubado o noivo da melhor amiga e casado com ele. Detalhe, a amiga traída também está no cruzeiro, aumentando o número de suspeitos de terem cometido o crime.

No entanto, em se tratando de Agatha Christie, não se pode apegar ao óbvio, e muito menos descarta-lo, já que a autora faz questão de utilizar todos os elementos ao seu dispor para construir uma história onde o leitor acaba descobrindo que muita coisa acaba não sendo da forma como ele concluíra que fosse. Confuso? Leia o livro e descubra, porque spoiler é algo que você não vai ter aqui.

A história, repleta de reviravoltas, é marcada pela estilo único da autora, com uma escrita dinâmica e nem um pouco cansativa que prende a atenção do leitor, especialmente quando nos deparamos com os diálogos sagazes envolvendo o tão querido Hercule Poirot.

O livro foi recentemente adaptado para o cinema em um filme lançado este ano, que conta com a participação de um elenco de renome, com Kenneth Branagh votando ao papel de Poirot (assistam “Assassinato no Expresso do Oriente”, também baseado no livro homônimo de Agatha Christie), Gal Gadot interpretando Linnet Ridgeway, e Armie Hammer como Simon Doyle, noivo da vítima, além de vários outros atores reconhecidos.

Uma obra excelente, com a marca de uma das maiores escritoras de todos os tempos, contando uma história com a já conhecida narrativa inteligente e envolvente de uma autora que deixou saudade, mas que felizmente também nos legou um acervo literário riquíssimo.

Leiam.

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Fahrenheit 451

Da autoria de Ray Bradbury, “Fahrenhait 451” foi inicialmente publicado em 1953, com um enredo que traz a narrativa de um futuro distópico em que a sociedade é constantemente vigiada pelas autoridades, tendo como principal proibição o ato de, pasmem, ler livros.

Inicialmente, é importante explicar o título do livro, que faz referência à temperatura que é necessária para chegar à queima de papel, que na medida adotada pelos americanos é Fahrenhait 451, o equivalente a 233 graus celsius. E qual a razão dessa explicação? Bem, na história nós conhecemos Guy Montag, um membro do Corpo de Bombeiros, cuja principal função é apagar o fogo, certo? Não!

No futuro distópico que vemos na história a função do Corpo de Bombeiros foi modificada pelas autoridades, passando a ser a de erradicar livros não permitidos, o que é feito através da queima destes preciosos objetos. Ou seja, ao invés de apagarem, eles são os responsáveis pelos incêndios. Na trama, Montag é um dos principais e mais promissores agentes da corporação, e no início está aparentemente satisfeito com a vida que leva.

No entanto, ao voltar para casa depois de um dia de trabalho, Montag conhece Clarisse, uma garota que vive perto de sua casa, e conversando com a jovem, que é de uma família que aparentemente não segue os padrões sociais comuns, o bombeiro acaba despertando um senso crítico que não estava ali antes, e pouco a pouco uma mudança começa a ocorrer em sua mentalidade, até o ponto em que Guy passa a perguntar-se se o que está fazendo é realmente correto.

Montag então passa a observar com um olhar contestador tudo o que acontece ao seu redor, começando por sua própria casa e pelo comportamento da esposa, Mildred, uma mulher alienada e vazia, viciada em programas exibidos por uma espécie de aparelho composto por telas que ocupam paredes inteiras da casa (ao que parece, uma alusão à televisão), e que transmite programas sem conteúdo em que é permitida a interação do espectador.

Ao mesmo tempo, o personagem passa a ser constantemente vigiado por seu chefe, o Capitão Beatty, que começa a desconfiar da mudança de comportamento de Montag, e na tentativa de mantê-lo incólume à influência do pensamento crítico, tenta incutir com cada vez mais força na mente do mais jovem o quão prejudiciais são os livros.

Mas é após um incidente em um dia de trabalho que as coisas realmente mudam, momento em que Montag acaba presenciando a dona de alguns livros preferindo morrer queimada junto a eles, algo que somado ao repentino desaparecimento de Clarisse, e ao contato secreto que Guy passa a ter com livros e com um velho professor chamado Sr. Faber, fazem com que o bombeiro entenda de uma vez por todas como tudo aquilo está definitivamente errado, e passe a planejar a destruição do próprio Corpo de Bombeiros.

Um dos destaques da obra é a explicação dada pelo Capitão Beatty para a razão de os bombeiros terem a estranha função de queimar livros. O personagem, que se mostra como alguém com um amplo conhecimento literário, mesmo de temas que são abertamente proibidos pelas autoridades, explica a Montag que aquele costume não foi adotado de uma só vez, como acontece em um golpe de estado, mas gradativamente.

Segundo ele, aos poucos as autoridades adotaram o entendimento deturpado de que os livros faziam com que as pessoas fossem infelizes, porque o conhecimento levava a pensar, e tal pensamento podia adotar diversas vertentes, fazendo com que a sociedade optasse por seguir variadas formas de pensamento, o que acabava por gerar brigas, discussões e insatisfação.

No entanto, se todos pensassem da mesma forma, não haveriam embates, e assim, nessa linha de pensamento degenerada, todas as pessoas acabariam sendo felizes.

A crítica de Bradbury, mesmo tendo sido feita em meados do século passado, se mostra cada vez mais contemporânea, especialmente em uma época em que cada um acredita ser dono da razão, querendo convencer a todos que pensem da forma como pensa, sem aceitar a pluralidade de ideias, o que vale para todas as correntes que vemos sendo defendidas na atualidade, especialmente nas redes sociais, onde é comum ver a linha de que “o meu certo é o certo, não importa de qual lado eu esteja”.

Mas voltando ao livro, a obra é leitura obrigatória, especialmente para quem admira histórias de distopia que trazem em seu corpo um convite ao pensamento crítico. A narrativa pode parecer maçante nos primeiros capítulos, mas ganha corpo conforme Montag evolui, e prende efetivamente a atenção do leitor até o fim.

A história é excelente, e a recomento, como faço com todo e qualquer livro, que não deve ser queimado, mas lido, assimilado e usado para o desenvolvimento e construção do pensamento humano.

Leiam!

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Três Solteirões e um Bebê

E em homenagem ao dia dos pais, vamos de um clássico dos anos 80, “Três Solteirões e um Bebê” (Three Man and a Baby).

Lançado em 1987, o filme conta a história de três solteirões, que dividem um apartamento em Manhattan, Nova York. Peter Mitchell (Tom Selleck), Jack Holden (Ted Danson) e Michael Kellam (Steve Guttenberg) são três bon vivants, solteiros e bem sucedidos em suas respectivas carreiras, aproveitando a vida e a solteirice como se não houvesse amanhã.

Mas um belo dia uma visita inesperada surpreende os marmanjos, que acabam se deparando com um bebê que foi deixado na porta do apartamento que os três dividem. Peter e Michael, que encontram a pequenina, acabam descobrindo no bilhete que foi deixado com ela que a criança é filha de Jack, que é ator, com uma atriz com quem tivera um rápido relacionamento, e que deixara a neném com o pai até ter condições financeiras de voltar e cria-la.

A partir daí a confusão está formada, já que os solteirões não possuem qualquer experiência em criar bebês, e acabam tendo que aprender na marra como cuidar da pequena Mary, enquanto tentam retomar suas vidas e conciliar a criação da neném com seus respectivos trabalhos, o que gera situações inusitadas e extremamente engraçadas, como a primeira vez em que os marmanjos têm de limpar o cocô da jovenzinha e trocar suas fraldas.

“Três Solteirões e um Bebê” é um clássico da comédia, e fez tanto sucesso que gerou uma continuação, “Três Solteirões e uma Pequena Dama”, onde Mary já não é uma bebezinha, mas uma garotinha de cinco anos, dividindo o tempo entre a mãe e os três papais que continuaram a cuidar dela.

Um filme leve, engraçado e que não deixa de ser uma homenagem ao dia dos pais, já que mostra em diversos momentos o amor paterno que as três figuras têm pela bebê, não precisando haver um laço de sangue para que esse sentimento se desenvolva.

Assistam.

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Gonzaga, de Pai para Filho

Lançada em 2012, a obra retrata com fidelidade e sensibilidade a intimidade que envolvia a relação conturbada entre Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, e seu filho Gonzaguinga, dois monstros da música nacional que deixaram um patrimônio musical invejável e de qualidade ímpar.

O filme, que posteriormente foi adaptado para o formato de minissérie e lançado na tv aberta, inicialmente retrata as fases da vida do inesquecível Gonzagão, desde sua adolescência no agreste de Pernambuco, até sua saída de casa para dar os primeiros passos na busca pelo seu sonho, mostrando ainda sua chegada ao Rio de Janeiro, onde começou a fazer sucesso, e seu romance controverso com Odaléia, mãe de Gonzaguinha.

A obra também narra a história de Gonzaguinha, contando o tumultuado relacionamento que mantinha com o pai, desde a infância até a fase adulta, quando finalmente acabam chegando a um entendimento no momento em que ambos abrem o coração um para o outro, mostrando seus sentimentos e traumas e externando o amor que mutuamente sentiam e que se ocultava por detrás de todos os problemas que tinham vivenciado.

O filme traz ainda referências à carreira de ambos os cantores, mostrando em alguns momentos a inspiração que fez nascer algumas das músicas mais famosas destes gigantescos expoentes da arte nacional.

Gonzagão nos deixou em 1989, e Gonzaguinha foi embora quase dois anos depois, em 1991, deixando para trás, além de uma enorme saudade, uma obra de qualidade ímpar a ser admirada em diversos ritmos, cada uma com suas características, mas ambas belas e apaixonantes, assim como este filme que narra um pouco desta história, e que acaba fazendo jus à grandeza destes dois ícones da música nacional.

Vale muito à pena assistir.

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Pare, senão mamãe atira!

Esse filme de comédia fofo que virou um dos mais repetidos dos bons tempos da Sessão da Tarde carrega uma polêmica que teve início apenas recentemente, mas ante de falar sobre ela, vamos à história.

Lançado em 1992, “Pare, senão mamãe atira” (Stop, or my mom will shoot) é um levíssimo filme de comédia, em que ninguém menos que Silvester Stallone encarna Joe Bromowski, um policial durão e teimoso, que de repente vê sua rotina sendo virada do avesso quando sua doce mamãezinha Tutti (até o nome é fofo), aqui vivida por Estelle Getty, resolve ir passar um tempo na casa do filhão.

Até aí tudo bem, uma visita das mães, especialmente quando moram longe, é mais do que bem vinda. O problema é que a doce Tutti trata o filho como um bebezão, e passa a atormentar a vida do policial se metendo em tudo o que ele faz, causando-lhe algumas saias justas e constrangimento dos mais hilários, inclusive dentro do departamento de Polícia em que ele trabalha.

O pior de tudo é que Tutti acaba presenciando um crime e fica impedida de deixar a cidade, passando a circular com o filho para todos os lugares, o que para o pobre Joe acaba sendo uma enorme dor de cabeça. Uma das coisas que a doce velhinha apronta é simplesmente lavar a pistola do filho, além de se meter no relacionamento complicado que ele tem com outra policial, lhe dar uma metralhadora de presente, e causar uma variada gama de constrangimentos para o policial, arrancando boas risadas dos espectadores.

Acho que algumas pessoas que assistirem o filme se identificarão com os micos que o coitado do Joe paga, afinal, quem nunca teve uma mãe que acabou soltando uma pérola da nossa intimidade para um grupo de pessoas?

E qual é a polêmica? Você pode perguntar. Bem, esse filme não foi lá um estrondo de público e crítica quando foi lançado, e recentemente, em um “talk show” nos EUA, Arnold Schwarzenegger, que é um grande amigo de Stallone, mas que no passado chegou a ter uma certa rivalidade com ele, contou que quando a película estava em fase de produção algumas pessoas o contataram para fazer o papel de Joe, mas que achou o roteiro uma porcaria, e que acabou fazendo uma pegadinha para que o amigo acabasse aceitando interpretar o personagem.

A forma como Arnold contou tudo, dando umas boas gargalhadas e meio que zombando do amigo, não agradou muito alguns fãs de Sly (apelido de Stallone), que vibraram quando o eterno Rocky Balboa publicou uma reposta pela instagram dizendo que perto de “Junior”, um filme estrelado por Schwarzenegger, “Pare, senão mamãe atira” parece um ganhador do Oscar.

Para quem não sabe, em “Junior”, Schwarzenegger faz o papel de um cientista que fica grávido, sim, isso mesmo, grávido, e apesar de ser um grande fã do cara não posso negar, o filme é péssimo.

Mas polêmicas à parte, o certo é que “Pare, senão mamãe atira” é um filme leve, legal e engraçado. Pode não ser o supra sumo da comédia, mas é bastante divertido, e deixou uma marca nos fãs da época de ouro da Sessão da Tarde, que ainda dão boas risadas com as caras e bocas de Sly enquanto é atormentado pelas peripécias da doce Tutti, especialmente aqueles que têm uma mamãe engraçadinha que às vezes apronta alguma.

Assistam, de preferência com suas mamães ao lado.

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O Apanhador no Campo de Centeio

Da autoria do aclamado J.D. Salinger, “O Apanhador no Campo de Centeio” (The Catcher in the Rye) foi publicado no ano de 1951, tornando-se um dos mais celebrados romances da história da literatura.

Na obra o personagem principal, Holden Caulfield, um jovem de apenas dezessete anos, filho de pais ricos que residem em Nova York, tem de lidar com as consequências que advêm da expulsão do internato onde estuda (mais uma de inúmeras que já teve), e antes que a família saiba do ocorrido ele resolve aproveitar alguns dias a seu próprio modo na cidade que nunca dorme.

A história é contada em primeira pessoa, ou seja, é o próprio personagem quem narra os fatos, e o faz de uma forma ímpar e revolucionária, com o uso de uma linguagem crua, muitas vezes chula e repleta de gírias, como se de fato estivéssemos ouvindo da boca de um adolescente cheio de conflitos e incertezas o que está se passando em sua vida.

Houlden é o típico jovem rebelde, insatisfeito, contestador, incoerente e que não faz a mínima ideia do que quer da vida. É o segundo de quatro filhos de uma família rica, tendo de lidar com um irmão mais velho que se torna um escritor famoso, e que perde seu respeito por ir trabalhar em Hollywood, mas também tem de encarar outras questões, como a lembrança de um irmão mais novo com quem tinha uma relação muito próxima, e que logo cedo morre de leucemia, e com o amor puro e fraternal que sente por sua irmã caçula, que acaba fazendo com que exercite em alguns momentos a pouca responsabilidade que mantém no trato com a própria vida.

Ao longo da obra também nos deparamos com outros personagens que retratam desde a futilidade de alguns dos rapazes que estudam com Houlden (fato que é apontado pelo mesmo em diversos momentos), até o cenário depressivo do mundo underground da famosa grande maçã, a cidade de Nova York, quando o adolescente rebelde se envolve com todo o tipo de gente, a exemplo de uma jovem prostituta e seu cafetão, professores por quem nutre alguma admiração, e a própria irmã caçula, que é quem lhe lança na cara a verdade de que ele nunca está satisfeito com nada.

Mas a jornada de Houlden vai muito além de alguns dias de farra em Nova York enquanto sua família não descobre sua nova imprudência.

Por entre hotéis baratos, bares obscuros e até mesmo um encontro casual com duas freiras a quem o rapaz acaba ajudando, nós vemos a busca constante de um jovem inexperiente por algum rumo em sua vida, algo que quase a totalidade dos adolescentes já buscou em algum momento, e para além do garoto incoerente e imaturo que a quase tudo critica, nos deparamos com um rapaz sincero e de coração puro, que mesmo com toda a confusão que se passa em sua vida, quando surge a necessidade abre mão do que tem para ajudar a pessoas que estão precisando.

O Apanhador no Campo de Centeio se tornou a voz não apenas de uma, mas de diversas gerações, mostrando com uma precisão crua o que se passa no coração e na mente dos jovens naquela fase tão conturbada e cheia de incertezas que é a adolescência, trazendo em seu bojo também a contestação sincera de um rapaz aos valores e ao modo de vida daqueles a quem considerava verdadeiros farsantes, os adultos.

Uma obra marcante, um retrato de várias épocas, e uma história que te apanha de imediato, com o perdão do trocadilho.

Leiam!

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O Expresso Polar

Lançado em 2004, “O Expresso Polar” (The Polar Express) é uma animação dirigida por Robert Zemeckis, aclamado diretor que tem no currículo nada menos do que a trilogia “De Volta para o Futuro”.

O enredo aborda a história de um garoto que não acredita em papai noel, e na véspera de natal recebe a inesperada e improvável visita de um enorme trem, que estranhamente para em frente à sua casa. Ao investigar o que está se passando, o menino encontra o condutor, aqui dublado por ninguém menos que Tom Hanks, que informa ao jovem que o veículo está indo para o Polo Norte e que estão esperando apenas por ele para continuarem viagem.

O menino então embarca no trem, onde se depara com várias outras crianças com quem acaba dividindo uma jornada onde cada um irá descobrir os desejos e anseios que habitam em seus corações, assim como os medos que os impedem de serem felizes.

A jornada de fato acaba no Polo Norte, onde a criançada acaba visitando nada menos do que a vila do papai noel, e o lugar onde os elfos habitam e ajudam a fabricar os presentes de natal, mas isso aí vocês podem conferir assistindo ao filme.

O Expresso Polar é baseado no livro homônimo de literatura infantil, escrito em 1985 por Chris Van Allsburg, um dos nomes mais respeitados do gênero, e é uma história bela e emocionante, que retrata com fidelidade de sensibilidade a visão das crianças sobre a magia das crenças do Natal.

Um excelente filme para ver em família.

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Os Goonies

E hoje vamos de um dos maiores clássicos dos anos 80, “Os Goonies”.

Produzido por Steven Spielberg e dirigido por Richard Donner, “Os Goonies” (The Goonies) foi lançado em 1985 e conta a história de Mikey, Brand, Bocão, Gordo e Dado, cinco adolescentes que moram em uma pacata cidade litorânea dos Estados Unidos, e que se veem às voltas com a iminente despedida causada pela compra de suas casas por um rico empresário local.

Mikey, o mais fantasioso dos garotos acaba encontrando um antigo mapa, que aparentemente pertencera ao famoso pirata Willy Caolho, e movido pela curiosidade e pela fantasia, os jovens acabam se aventurando em busca do suposto tesouro dos piratas escondido em algum lugar das redondezas, e é aí que a aventura tem início.

Mas logo no início da busca, a turma, que ganha a companhia de Andy, namorada de Brand, e de sua amiga Stef, acaba se deparando com os Fratelli, uma atrapalhada família de criminosos composta pela rabugenta Mama Fratelli e pelos seus filhos Jake Fratelli, Francis Fratelli, e o inesquecível e envolvente Sloth, o feioso mais adorável de todos os tempos (sim, até mais que o Shrek).

A partir daí é só trapalhada e confusão, com tiradas divertidíssimas que arrancam risadas da plateia, merecendo destaque as gaiatices do personagem Bocão e os escândalos do divertido Gordo, que acaba criando um laço emocionante com Sloth, que nunca tivera amigos por causa da sua aparência assustadora, mas que acaba se revelando como um ser humano de uma doçura e bondade ímpares.

Não vou contar se eles acham ou não o tesouro, cabendo a você assistir o filme, se é que ainda não viu esse incrível clássico que marcou seu lugar na história do cinema.

Os Goonies deixou sua marca em mais de uma geração, sendo um dos filmes mais amados de todos os tempos, que ajudou a revelar atores que posteriormente firmaram seu nome com letras garrafais na indústria cinematográfica, como Sean Astin (Mikey Walsh), que fez o papel de Sam Gamgee em O Senhor dos Anéis, e Josh Brolin (Brand Walsh), que recentemente interpretou ninguém menos que a versão jovem do agente “K” em MIB 3, Cable em Deadpool 2, e Thanos, nos filmes dos Vingadores.

Um filmaço, que merece uma conferida sempre que estiver passando em uma tv perto de você.       

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O Físico

Publicado em 1986, da autoria do célebre escritor Noah Gordon, “O Físico” (The Physician) conta a história de Rob J. Cole, um jovem que nasce na Inglaterra do século XI em uma família humilde, e que logo cedo descobre o dom sobrenatural de saber, pelo toque das mãos, quando alguém está perto de morrer.

Infelizmente Rob descobre isso da pior forma possível, primeiro com a mãe, e posteriormente com o pai, ficando órfão em tenra idade e tendo de ser separado dos irmãos ainda criança. Sozinho no mundo, o garoto acaba sendo adotado por Barber, um barbeiro cirurgião, que era uma espécie de médico com menos conhecimentos daquela época, mas que ainda assim tratava algumas doenças e acabava sendo pago para isso.

Além de barbeiro cirurgião, Barber também fazia espetáculos e vendia tônicos fabricados com os conhecimentos de ervas que possuía, e logo começa a treinar o jovem Rob para auxiliá-lo, introduzindo o rapaz nas artes dos malabares e também na ciência da cura.

No entanto, com o tempo Rob começa a ficar frustrado por não conseguir ajudar mais as pessoas do que podia com seus parcos conhecimentos, e acaba ouvindo falar em uma célebre escola de medicina situada na antiga Pérsia, que formava aqueles que podiam ser inclusos entre os melhores médicos do mundo.

Já adulto, Rob decide sair em busca dessa escola, ciente de que a mesma só aceita entre seus alunos judeus e muçulmanos, algo que ele terá de descobrir como contornar, já que é cristão, e não possui a menor intenção de se converter. Desta forma, ele sai em busca de seu sonho, passando por percalços, aventuras e romances no caminho, enquanto secretamente alimenta o sonho de um dia reencontrar os irmãos, algo que não conseguira até então.

O Físico é uma obra detalhada, que traz uma rica e emocionante narrativa sem descuidar dos detalhes que envolviam as profissões da época, a rixa existente entre médicos, cirurgiões e barbeiros cirurgiões, especialidades distintas naquele tempo, e o choque de culturas entre as religiões cristã, judaica e muçulmana.

O livro faz parte de uma trilogia que se passa com uma diferença de séculos, cujas outras obras são “Xamã” e “A Escolha da Dra. Cole”, e possui uma escrita envolvente, que prende o leitor na aventura do jovem Rob, em suas dores e em suas conquistas, além de divertir bastante e nos brindar com conhecimentos de história e medicina.

Uma leitura que agrada, diverte, e enriquece o conhecimento.

Vale muito à pena.

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Chernobyl 01:23:40

Se você quiser se aprofundar um pouco mais naquele que foi o maior desastre nuclear da história, esse é um livro que vai lhe ajudar bastante.

Lançado em 2019, da autoria de Andrew Leatherbarrow, “Chernobyl 01:23:40” narra com riqueza de detalhes como se deu a terrível tragédia ocorrida na usina de mesmo nome no dia 26 de abril de 1986, na Ucrânia, que ainda fazia parte da extinta União Soviética.

A obra aborda não apenas o acidente, mas traz também detalhes de como toda a área próxima à usina se encontra atualmente, com fotos da chamada “Zona de Exclusão”, que foi abandonada dias após a tragédia e está assim até hoje em virtude dos altíssimos níveis de radioatividade, quadro que de acordo com cientistas poderá se manter ainda por milhares de anos.

Leatherbarrow faz uma viagem na história até o fatídico dia e hora em que tudo aconteceu (01:23:40, exato horário em que o reator da usina explodiu, o que explica o título do livro), e vai um pouco mais além, explicando com riqueza de detalhes incidentes que já tinham acontecido anos antes no mesmo local e revelando todos os erros e irresponsabilidades que o governo da União Soviética cometeu e que acarretaram naquela tragédia, mostrando também a insistência dos soviéticos em mentir para o restante do mundo ao tentar esconder de todos o que acontecera, ato que poderia ter ocasionado uma contaminação a nível mundial.

A obra também explica o funcionamento de uma usina nuclear, trazendo comparativos com outras formas de energia a fim de esclarecer se de fato é mais limpa e segura do que as demais.

A riqueza de detalhes do livro é tamanha que ele foi usado na produção da sensacional série “Chernobyl”, do canal HBO (juntamente com outra obra bastante elogiada “Vozes de Chernobyl”, de Svetlana Alexijevich), que apresenta com uma fidelidade impressionante tudo o que aconteceu naquele local antes e depois da explosão.

 “Chernobyl 01:23:40” é um livro interessantíssimo que serve de fonte de pesquisa e também de entretenimento, ensinando a todos a gravidade que permeia a irresponsabilidade de governos ditatoriais, bem como as consequências terríveis que dela podem advir.

Vale a pena a leitura.

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People Are Strange

E como o foco aqui está voltado para a história do The Doors, não percamos a linha, o que me leva a falar de um dos melhores documentários já produzidos sobre uma banda de Rock na história do entretenimento.

Lançado em 2009 e dirigido por Tom Dicillo, “When you’re Strange” (Quando Você é Estranho), traz uma versão mais profunda e completa não apenas da banda, mas principalmente do lead singer Jim Morrison, adentrando um pouco mais nas origens do astro e no dia a dia do conjunto até o encerramento de suas atividades, em 1971.

Diversamente do filme biográfico The Doors, lançado por Oliver Stone em 1991, que foca mais no lado pesado e autodestrutivo de Morrison, “When You’re Strange” faz um mergulho mais profundo na complexa personalidade do poeta, abordando com um pouco mais de sensibilidade as frustrações, anseios e desafios pessoais desse artista, assim como a relação que tinha com cada um dos integrantes.

Na sua elaboração os integrantes remanescentes Ray Manzareck (ainda vivo àquela época), John Densmore e Robbie Krieger optaram por não terem uma participação direta, a fim de que o olhar do diretor ficasse livre de qualquer amarra ou opinião pessoal por parte deles.

Ray, que também era formado em cinema pela UCLA (curso onde conheceu Morrison), elogiou bastante a obra, afirmando que aquela seria a verdadeira história do The Doors, não sendo um segredo para os fãs que Manzareck era um crítico contundente do filme feito por Oliver Stone, em virtude de explorar quase que na integralidade apenas o lado negativo de Jim.

O documentário traz uma visão profunda e dinâmica da banda e de Jim, abordando também o lado negativo do artista, mas adentrando de forma mais completa na personalidade do cantor, assim como mostrando a sensibilidade e poesia de sua persona, apresentando um bônus especial, que é a divulgação do inédito filme feito pelo próprio Morrison em 1969, HWY: An American Pastoral, com imagens nunca vistas do astro em situações inusitadas.

Outro atrativo da obra é, como não poderia deixar de ser, a trilha sonora, que evidentemente é composta por músicas da banda, além de algumas outras que trazem a emoção necessária para cada momento abordado.

Também não se pode deixar de mencionar a excelente narração que fica a cargo de ninguém menos que Johnny Depp, que atua enquanto narra, imprimindo uma carga emocional especial que impede que o documentário se torne apenas uma narrativa fria da história do conjunto.

“When You’re Strange” acerta em cheio em tudo o que faz e nos apresenta uma história rica e emocionante de uma das maiores bandas de Rock de todos os tempos, nos levando por um passeio vertiginoso pela loucura da década de sessenta enquanto nos mostra um Jim Morrison um pouco mais humano, um pouco mais sensível, e um pouco mais poeta, fazendo jus ao talento desse artista completo que escrevia, cantava, dirigia e atuava, e que infelizmente foi embora tão cedo, mas ainda assim deixando para trás um legado que atrai até os dias de hoje multidões de fãs.

Vale muito a pena assistir.

O Auto da Compadecida

E nessa época de São João, onde as raízes nordestinas e as tradições de nossa terra são amplamente difundidas, nada melhor do que falar da obra de um paraibano nato, que apesar de não abordar as festas juninas traz uma bela narrativa de nossos costumes.

Da autoria de Ariano Suassuna, “O Auto da Compadecida” foi escrito em forma de peça no ano de 1955, e aborda as peripécias dos dois personagens principais, João Grilo, um malandro que vive aprontando das suas, e Chicó, um covarde, ou como dizemos aqui, frouxo, que vive contando mentiras das mais absurdas e que segue o amigo em todas as confusões em que se mete.

A história é inicialmente apresentada pelo palhaço, um personagem que fala diretamente com o público e que entra e sai da trama conforme ela se desenrola, explicando aos leitores e espectadores o que está acontecendo, e já começa com João Grilo se metendo em confusão e levando o pobre do Chicó a tiracolo, que reclama, reclama, mas acaba sempre seguindo o companheiro nas empreitadas que aquele arma.

Em pouco tempo ficamos sabendo da morte do cachorro da esposa do padeiro, e da tentativa de João de fazer um enterro conduzido por um padre para o animal, tudo com a intenção de ganhar alguma vantagem em cima da história. A partir de então conhecemos os demais personagens da trama, como o sacristão, o frade, o bispo, o Major Antônio Moraes, o cangaceiro Severino e seu capanga, “o cabra”, o encourado, que é o diabo, o demônio, seu assistente, a Compadecida e Manuel, que é Jesus Cristo.

Depois de aprontar muitas peripécias, João acaba enrolando o próprio Severino quando ele e seu cangaço invadem a cidade, contando para o cangaceiro uma lorota de que possui uma gaita que ressuscita os mortos. Severino é morto pelo seu jagunço para testar a eficácia do instrumento, e quando o “cabra” descobre a mentira de Grilo, acaba assassinando o malandro que vai para o outro mundo junto com o Padre João, o bispo, o padeiro, e a esposa, ficando vivo apenas Chicó.

No outro mundo nos deparamos com o julgamento dos mortos, conduzido por nosso Senhor e tendo como acusador (em uma alusão aos promotores) o diabo, apresentando diversos elementos jurídicos trazidos por Ariano, que era advogado de formação, em uma divertida e inteligente narrativa sobre os pecados e motivações de cada um dos julgados.

Presenciamos também a chegada de Maria ao julgamento, em uma apelação feita por João Grilo em um momento de apuro, para que Nossa Senhora atue em sua defesa diante do Juiz, que é Jesus.

Maria então faz a defesa de todos, até mesmo de João, que é um dos mais errados da história, e o resultado desse interessante julgamento você pode descobrir lendo essa maravilhosa obra.

Para quem acompanhou a famosa minissérie de Guel Arraes, que acabou virando filme, pode haver o estranhamento quanto à ausência de alguns personagens e à existência de outros que não estavam na obra de teledramaturgia. Um deles é Rosinha, vivida nas telas por Virgínia Cavendish, que faz par romântico com Chicó, aqui interpretado brilhantemente por Selton Mello.

Pois bem, no livro Rosinha não existe, assim como Vicentão e o Cabo Setenta, e nos deparamos com outros personagens que foram retirados da adaptação para as telas, como o sacristão, o frade e o palhaço, sendo este último o narrador da história, que interage diretamente com a plateia, mas mesmo assim não há qualquer modificação radical, e a narrativa em nada perde com isso.

O Auto da Compadecida é uma obra que bebe de diversas fontes, como o próprio Ariano Suassuna já afirmou, e que narra com detalhes e exatidão os costumes do nordestino, com suas peculiaridades e tradições, apresentando uma narrativa rica em elementos das mais diversas espécies, assim como críticas sociais aos preconceitos, racismo e à forma como nos apressamos em julgar o próximo sem sequer saber um pouco do ele passou na vida.

Obra riquíssima que proporciona uma leitura divertida e envolvente e que merece uma boa conferida, para ser consumida e apreciada enquanto rimos ao mesmo tempo em que meditamos sobre todos os elementos ali presentes.

Leiam.

Fundo branco

Namorada de Aluguel

Dia dos namorados chegou, e como um bom romântico que é também fã de cinema e dos anos 80 resolvi unir o útil ao agradável e falar desse clássico da Sessão da Tarde, que deixou sua marca como comédia romântica na memória dos fãs de filmes do gênero.

Lançado em 1987, “Namorada de Aluguel” (Can’t buy me love) conta a história de Ronald Miller (Patrick Dempsey), um jovem tímido que não se enquadra no famoso gênero dos “populares” do colégio, mas que deseja avidamente se tornar um dos integrantes dessa turma.

Ronald é o típico nerd (como esse que vos escreve), humilde e trabalhador, e que acaba descobrindo que Cindy Mancini (Amanda Peterson), uma das garotas mais populares da escola está precisando de mil dólares para comprar um vestido, e com essa informação acaba tendo uma ideia inusitada. Oferecer à moça esse valor para que ela finja ser sua namorada por alguns dias.

Proposta aceita, os jovens montam a farsa, e para a surpresa de todos, aquele que antes era um típico nerd passa a ser um dos garotos mais descolados da escola, se tornando inclusive objeto de desejo de outras moças mais afoitas que antes só tinham olhos para os populares, e tudo isso por causa da fama que ganhou por estar namorando a queridinha do colégio.

No entanto, o sucesso acaba subindo à cabeça de Miller, que deixa-se contaminar pela arrogância que permeia a turma dos populares, chegando ao ponto de escantear seus amigos de infância igualmente nerds por ficar com vergonha de ser visto com eles.

De outro lado, Cindy, que no início da farsa começa de fato a nutrir um sentimento mais profundo por Miller, acaba se decepcionando com a mudança que se opera no rapaz, até que todo o conluio é descoberto e Ronald volta ao seu status de “impopular” na escola.

Mas nem tudo está perdido, e como Ronald sempre foi um garoto legal, acaba protagonizando uma das melhores lições de moral sobre bullying que o cinema já promoveu, ao defender seu amigo de infância, aquele mesmo que ele havia escanteado antes, do ataque de um dos valentões da escola, lembrando a esse mesmo bully que quando eram pequenos todos eles eram melhores amigos e mostrando o quão sem sentido e ridículas são essas perseguições e as divisões de turmas que tanto vemos na realidade do dia a dia.

No fim de tudo Cindy aceita as desculpas de Ronald, abrindo espaço para um romance verdadeiro entre os dois, culminando no típico final de Hollywood em que o casal apaixonado se beija enquanto a tela escurece.

“Namorada de aluguel” é um dos filmes mais populares dos anos 80, que marcou toda uma geração e que não envelheceu com o passar do tempo, mas que continua bem atual e divertido, sendo uma boa pedida para assistir ao lado do par romântico com um belo balde de pipoca em uma tarde de dia dos namorados.

Assistam.

Marble rosa

Mamma Mia!

Não, não é um filme italiano, mas um musical muito bem produzido que conta com um elenco extremamente talentoso e nos apresenta uma história acompanhada pelas canções de nada mais, nada menos que o ABBA, uma das melhores bandas de todos os tempos.

Lançado em 2008, Mamma Mia! é um musical baseado na peça de mesmo nome, escrita por ninguém menos que Benny Anderson e Björn Ulvaeus, dois dos quatro integrantes da lendária banda sueca que encantou o mundo nas décadas de 70 e 80.

O filme, cujo nome se baseia na música homônima que estourou nas paradas de sucesso em 1975 conta a história de Donna Sheridan, interpretada por ninguém menos que a multivencedora do Oscar, Meryl Streep. Donna é proprietária de uma pousada na ilha grega de Kalokairi, e mãe de Sophie (Amanda Seyfried), filha que teve e criou sozinha, e a quem nunca revelou a identidade do verdadeiro pai.

Sophie então descobre quem são os três homens que se relacionaram com sua mãe pouco antes de ela engravidar, e na tentativa de descobrir quem é seu verdadeiro pai convida, sem que Donna saiba, os ex-namorados dela.

A partir de então surgem na ilha Sam Carmichael (Pierce Brosnam), Harry Bright (Colin Firth), e Bill Anderson (Stellan Skarsgard), que não fazem a mínima ideia do que foram fazer ali, e muito menos de que existe a possibilidade de que algum deles seja pai de Sophie, o que acaba gerando inúmeras e divertidas confusões, vividas em um clima de romance e acompanhadas pelas inesquecíveis músicas do ABBA, que são interpretadas pelos atores em diversos contextos semelhantes às letras das canções.

Enquanto isso, descobrimos em Donna uma mãe forte, cuidadosa e cheia de amor, que quer apenas o melhor para a filha, a quem dedicou toda a vida enquanto a criava sozinha, sofrendo por um dos três ex-namorados a quem de fato amou em sua juventude.

O filme destaca-se pela história em um leve clima de comédia, pela curiosidade em descobrir quem é o verdadeiro pai de Sophie e pelas trapalhadas causadas pela própria Donna assim que descobre que seus ex-namorados estão na ilha às vésperas do casamento da filha, sem esquecer das inesquecíveis canções do ABBA, que dão à obra um ingrediente mais do que especial.

Mamma Mia! é um excelente filme, leve e divertido para curtir em um domingo à tarde ao lado de nossas mães.

Assistam.

Fundo branco

Jesus

Lançado em 1999, “Jesus, A Maior História de Todos os Tempos” (Jesus) é um filme que retrata a vida de Cristo até a ressurreição. No entanto, a obra traz algumas inovações que chamam atenção, apresentando pontos interessantes na abordagem da história. Um desses pontos é verificado de imediato, logo no início da película onde vemos três cenas, todas elas envolvendo o nome de Jesus.

Na primeira delas assistimos cruzados atacando em nome de Cristo. Em seguida, damos um salto na história para o que é provavelmente uma condenação realizada na inquisição, em que uma pessoa aparece sendo queimada na fogueira, e por fim, presenciamos um pelotão de ataque da segunda guerra mundial, em que um dos soldados, gravemente ferido estende a mão e clama por Jesus Cristo.

Logo em seguida vemos Jesus (aqui interpretado por Jeremy Sisto) abrindo os olhos, como se as três cenas inicialmente passadas fossem um sonho profético em que Ele presenciara algumas atrocidades infelizmente cometidas em seu nome no futuro. A partir de então vemos a história de Cristo sendo contada de acordo com os evangelhos, passando por seu batismo, pelo jejum e pelas provações no deserto, pelas pregações e então pela crucificação e ressurreição.

Outras abordagens interessantes envolvem as tentações sofridas por Cristo tanto durante seu jejum no deserto, como também na noite de sua prisão, no monte das Oliveiras, momentos em que o diabo (Jeroen Krabbé), mostra cenas do futuro, retratando a pobreza e outras desgraças, trazendo de volta inclusive as imagens vistas no início do filme, em que mostra os conflitos ocorridos nas cruzadas e em outras guerras em que os homens morriam em nome de Jesus.

Fazendo isso o diabo tenta convencer Jesus de que sua morte seria em vão, já que mesmo morrendo para pagar pelos pecados da humanidade, as pessoas continuariam a pecar e cometer atrocidades, e que o certo a fazer seria descer da cruz e assumir o controle de tudo, chegando a perguntar a Cristo que tipo de DEUS permite que coisas desse tipo aconteçam?

Jesus então responde a esse questionamento, que inclusive é feito por muitas pessoas cansadas e desacreditadas, com os seguintes dizeres, “Um DEUS que ama tanto a humanidade que lhes deu a liberdade de escolha. ELE não criou os homens para tornar-se seu ditador, ELE lhes deu a escolha de fazer o bem ou o mal”. Essa resposta mostra bem a predisposição que possui o ser humano de culpar a DEUS pelos próprios erros e pelos erros dos outros.

Outro destaque emocionante é a última cena, que mostra Jesus nos dias atuais, vestido como um jovem comum e encontrando sorridente com várias crianças, como uma forma de dizer que sim, ELE estará conosco até o fim dos tempos.

“Jesus, A Maior História de Todos os Tempos” é um filme emocionante, que traz uma abordagem dinâmica e interessante sem afastar a emoção que sentimos com o sacrifício Daquele que deu Sua Vida por nós, o nosso Salvador Jesus Cristo.

 

Uma Feliz Páscoa.

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Orgulho e Preconceito

E em homenagem ao dia da mulher, vamos de Orgulho e Preconceito, um livro vanguardista de uma excelente escritora que esteve à frente de seu tempo, quebrando paradigmas sociais ao deixar seu nome e suas obras marcadas na história.

Publicado em 1813, da autoria de Jane Austen, “Orgulho e Preconceito” (Pride and Prejudice) nos apresenta os Bennet, uma família que vive na zona rural da Inglaterra do século XIX, composta pelos pais, Mr. Bennet e Mrs. Bennet, e pelas cinco filhas, Jane, Elizabeth, Mary, Kitty e Lydia.

A trama tem início quando o jovem, simpático e atraente M. Bingley aluga uma propriedade ao lado de onde residem os Bennet. Retratada como a típica matriarca da época, que só pensava em arranjar um casamento vantajoso para as filhas, Mrs. Bennet fica logo em polvorosa, desejando que o cavalheiro conheça uma de suas herdeiras, dando preferência às mais velhas, Jane e Elizabeth.

Jane, uma jovem doce e bonita contrasta em temperamento com sua irmã Elizabeth, moça questionadora e cheia de personalidade, que desafia constantemente as convenções da época, no que possui total apoio de seu pai, Mr. Bennet, que ironiza a postura da esposa de querer arranjar casamentos vantajosos para as filhas, achando tudo isso uma verdadeira futilidade.

Ao se conhecerem, Jane e Mr. Binlgey logo se encantam um pelo outro, e a partir desse momento tudo parece arranjado para que logo se casem. Mas a história também apresenta Mr. Darcy, amigo de Bingley, mas não tão simpático quanto ele. Na verdade, Darcy aparenta ser a antipatia em pessoa, e logo ele e Elizabeth se estranham, ao mesmo tempo em que parece pintar um clima entre os dois personagens, no melhor estilo de “quem desdenha quer comprar”.

A trama então sofre uma reviravolta quando Mr. Bingley repentinamente resolve voltar a Londres, e deixa para trás uma Jane arrasada pelo suposto desprezo daquele que tanto ama, mal entendido que acontece em virtude da ação de outros personagens, que não vou dizer quais são, cabendo a você ler o livro para conhecê-los, afinal, se eu der spoiler a história perde a graça.

Ao mesmo tempo, a narrativa ganha uma carga dramática com o surgimento de George Wickham, um jovem soldado que ronda cheio de interesse a família Bennet, tentando engatar um romance com Elizabeth e tendo uma relação intrinsecamente ligada com a pessoa de Mr. Darcy.

Está formada então a teia para uma história cheia de emoção, reviravoltas e romances, que além de prender o leitor com um enredo de extrema qualidade, deixa também sua marca como obra inovadora, à frente de seu tempo, especialmente tendo como foco Elizabeth, que se mostra uma jovem vanguardista, desafiando as convenções sociais com o melhor do que representa a força e a tenacidade do espírito feminino.

Leiam, leiam e leiam.

Gradiente azul

A Volta ao Mundo em Oitenta Dias

Ahhh, Júlio Verne, um escritor à frente de seu tempo, que falava sobre ciência de uma forma divertida e apaixonante, em obras que possuem o condão de encantar enquanto ao mesmo tempo ensinam os leitores, que acabam aprendendo sem sequer dar-se conta disso.

E uma dessas obras, talvez uma das mais conhecidas deste célebre escritor, é “A Volta ao Mundo em 80 Dias” (Le tour du monde en quatre-vingts jours). Publicado em 1872, o livro aborda a história de como Phileas Fogg, um discreto e extremamente metódico aristocrata britânico, acaba se envolvendo em uma aposta vista como impossível por muitos de seus colegas. Dar uma volta completa ao redor do planeta dentro do prazo máximo de oitenta dias, o que hoje em dia pode parecer simples, mas em uma época onde sequer aviões tinham sido inventados, era algo extremamente complexo.

Outro célebre personagem do livro é Jean Passepartout, que na versão brasileira ganha outros nomes, como Chavemestra, por exemplo, que é como me referirei a ele aqui, já que esta era a tradução presente na obra que li. Chavemestra é um francês que, em busca de uma vida sossegada e sem imprevistos, acaba oferecendo-se para trabalhar para o peculiar Phileas Fogg.

Mas no mesmo dia em que é contratado, achando que dali em diante teria uma vida repleta de paz, Chavemestra é surpreendido com a aposta aceita por seu patrão, e acaba partindo com ele para essa insólita aventura, cheia de riscos, perigos, mas também de encantos e emoções. O personagem apesar de se mostrar extremamente fiel e dedicado ao patrão, acaba metendo-se em algumas enrascadas, mais por inocência do que por irresponsabilidade, mas também age no momento certo para garantir o sucesso da empreitada, sendo extremamente importante em diversas outras situações.

Também merece destaque o personagem conhecido como Inspetor Fix. Após aceitar a aposta, que envolve uma altíssima soma em dinheiro, Fogg saca uma considerável quantia do banco para fazer sua viagem, e acaba sendo confundido pelo referido Inspetor por um ladrão que acabara de furtar uma vultosa importância daquele mesmo banco.

Fix então passa a caçar Fogg por todo o trajeto, tentando atrapalhar a viagem (o que acaba conseguindo) para pôr atrás das grades o aristocrata, sem saber que erroneamente o confundiu com o meliante que tanto procura. Mas no fim das contas... bem, no fim das contas vocês terão de ler para que possam saber se a viagem deu certo ou não, afinal, spoiler aqui não tem vez.

A Volta ao Mundo em 80 Dias é uma obra apaixonante, escrita por um gênio da literatura que deixou seu nome gravado na história, e diverte tanto quanto ensina, sendo leitura, senão obrigatória, ao menos então indicada para quem ama uma boa aventura, um excelente narrativa, e um inesquecível livro.

Leiam!

Gradiente Roxo Vermelho

Temporada de Verão

O verão chegou, e com ele as férias, a praia, a cerveja gelada à beira mar e aquele camarão gostoso só esperando para ser saboreado enquanto você relaxa pegando aquele bronze sob um sol radiante em um céu azul maravilhoso. Uma maravilha, certo? Bom, nesse filme de 1985 as coisas não funcionaram tão bem assim.

Lançado em 1985, “Temporada de Verão” (Summer Rental) é estrelado por um dos melhores e mais famosos atores de comédia de todos os tempos, o saudoso e inesquecível John Candy, cujo alguns dos filmes com certeza você já assistiu se era um fã da Sessão da Tarde.

Nessa divertida história, Candy interpreta Jack Chester, um controlador de tráfego aéreo que em virtude do estresse pelo qual passa é obrigado a tirar férias para se recompor em um merecido descanso. Para tanto, Jack aluga uma casa na praia e leva a família para passar um verão agradável. Bem, ao menos é isso o que o personagem deseja, mas no fim das contas não é bem o que acontece.

O primeiro problema com o qual Jack se depara é a casa que alugou, pensando ser um local confortável e agradável. No entanto, ao chegar lá descobre que a residência está em péssimo estado e caindo aos pedaços. Mas esse não é o menor dos seus problemas. No decorrer da história ele se depara com vizinhos nada convencionais e bem complicados, um maluco, praias insuportavelmente lotadas por causa da alta estação, uma perna quebrada e, como se isso não bastasse, uma competição de regata com um rico metido à besta com quem acaba apostando uma vultosa quantia.

Ou seja, o pobre Jack acaba passando por poucas e boas, proporcionando ao público boas gargalhadas e um bom divertimento. Mas mesmo com tudo o que enfrenta, ele acaba se aproximando mais de sua família, o que faz com que as férias, no fim de tudo, acabem valendo à pena.

Temporada de Verão é um daqueles filmes para matar a saudade da infância e da adolescência enquanto garante boas risadas para quem o assiste no sofá da sala, ou na varanda da casa alugada na praia. De preferência uma que não seja igual à do filme.

Diversão garantida.

A Estrela de Belém

Lançado em novembro de 2017, “A Estrela de Belém” (The Star) é uma animação que narra de forma divertida e emocionante o nascimento de Jesus sob a perspectiva de um grupo de animais que acaba se fazendo presente na manjedoura nesse momento tão único e especial de nosso mundo.
Na história, somos apresentados ao burrinho Bo, que sonha em sair pelo mundo como um dos animais de uma comitiva real, apoiado por Dave, um pombo atrevido e meio maluco que o acompanha na idealização dessas peripécias. Um dia, Bo consegue fugir de seu dono, e acaba sendo acolhido em uma simples casa por dois jovens recém-casados, José e Maria.
Maria já carrega em seu ventre aquele que veio a ser o Salvador do Mundo, e Bo, encantado por ela, acaba abandonando temporariamente seu sonho e permanece com o casal. No entanto, paralelo a isso, Herodes, por meio dos Reis Magos, toma conhecimento de que um novo Rei está para nascer, e envia um lacaio com o encargo de procurar e eliminar a criança.
José e Maria partem então para Belém, a fim de comparecerem ao senso, e são seguidos de perto por Bo e Dave, que tomam conhecimento, por meio dos cachorros do lacaio de Herodes, que o casal e a criança correm risco de vida, partindo então para tentar protegê-los daquele perigo. No caminho, os simpáticos bichinhos são apresentados a Ruth, uma ovelha, que ao presenciar a aparição da Estrela no céu decide abandonar seu rebanho e segui-la, por pressentir que algo especial está para acontecer.
Também participam da aventura um simpático ratinho, que presencia a aparição do anjo Gabriel a Maria, e os camelos dos reis magos, que ajudam não apenas seus donos, mas também Bo a fugir dos perigos enquanto tenta proteger o casal que o adotou.
A animação é leve e engraçada, merecendo destaque a relação inicialmente conturbada entre o simpático burrinho e José, que de início não simpatizam um com o outro, conflito que gera algumas cenas cômicas, além das peripécias aprontadas por Bo e Dave enquanto se aventuram, mas também não perde de vista a seriedade e a importância do evento que está para ocorrer, o que é destacado de uma forma discreta até mesmo pelos animais, que pressentem em vários momentos que algo único está para acontecer.
A história segue até o momento tão esperado, o nascimento de Jesus, que é representado de forma simples e bela, com a participação de todos os animais e dos pastores que receberam a anunciação dos anjos de que o Messias estava para nascer. É nesse momento que Bo percebe que acabou realizando seu grande sonho, já que não apenas fez parte da maior comitiva Real da história, mas também teve a honra de carregar o Rei dos Reis.
A Estrela de Belém é uma animação simples, bela e emocionante, apresentando muita qualidade tanto na versão original como também na dublada, e dando, a todo momento, a importância que possui o evento que é acompanhado de perto pelos simpáticos bichinhos que fazem parte da história. Uma ótima opção para ser assistida por pais e filhos, especialmente por fugir ao lugar comum onde a grande maioria das animações aborda apenas o papai noel, deixando de lado o verdadeiro significado desta data, que é o nascimento de um menino que em toda a sua simplicidade e amor nos salvou de nossos pecados.
Assistam! A diversão é garantida.

Impressões sobre obras: Bem-vindo

E.T. - O Extraterrestre

Dirigido por ninguém menos que Steven Spielberg, e lançado em 1982, “E.T. – O Extraterrestre” (E.T.) tornou-se um marco na história do cinema, levando aos risos e às lágrimas as mais diversas gerações.
Na história, somos apresentados ao pequeno Elliot (Henry Thomas), um garoto suburbano filho do meio de uma mãe divorciada, que tem problemas de distanciamento com um pai que parece não ligar muito para ele.
Um tanto quanto solitário e com problemas para aceitar a separação dos pais, Elliot acaba por encontrar, certa noite, uma estranha criatura no quintal de sua casa, um pequeno ser diferente de tudo o que ele já viu na vida, e apesar do susto inicial, tanto dele, como do pequeno estranho, os dois acabam desenvolvendo uma amizade emocionante, onde viverão inúmeros perigos e aventuras.
Elliot então batiza a criatura de, pasmem, E.T. e acaba descobrindo que seu amiguinho possui muitos dons que vão além de sua compreensão, sendo um deles descoberto em uma das cenas mais icônicas do filme, quando o extraterrestre, com a ponta do dedo a brilhar, cura imediatamente um ferimento que o menino acabara de sofrer.
E.T também aprende algumas palavras em nosso idioma, o que acaba gerando outra lembrança que ficou nas mentes dos fãs e que foi usada como referência em diversas outras mídias, que são os dizeres “E.T, telefone, minha casa (E.T, phone, home), momento em que aponta para o céu e mostra a Elliot que não é deste planeta.
Para esconder de todos a pequena criatura, Elliot conta com a ajuda do irmão mais velho, Michael (Robert MacNaughton), da irmãzinha caçula Gertie, interpretada por Drew Barrymore ainda criança, e de uma turma de amigos, que acaba ajudando consideravelmente na fuga do pequeno alienígena quando toda a coisa vem à tona.
O filme conta com algumas curiosidades, e uma delas ocorre quando as crianças saem em pleno Halloween, colocando um lençol branco no E.T. para fantasia-lo de fantasma. Enquanto caminha na rua, E.T. enxerga uma criança fantasiada de Mestre Yoda, o icônico personagem de Star Wars, e acaba reconhecendo o ser, mostrando que veio de um lugar onde aquela raça é conhecida.
A cena foi inclusa como uma brincadeira entre os amigos Steven Spielberg, criador do E.T., e George Lucas, criador de Star Wars, que assinaram e trabalharam juntos em diversos projetos, dentre eles, Indiana Jones. Anos depois, Lucas faria a mesma brincadeira em “Star Wars, Episódio I – A Ameaça Fantasma”, onde alguns seres da mesma espécie do E.T. aparecem em uma sessão do senado galáctico.
Outro fato sobre o filme, também envolvendo Star Wars, é que E.T. tornou-se a maior bilheteria da época, tomando o lugar que era da saga de George Lucas. Anos depois, com o relançamento das aventuras de Luke Skywalker e companhia, Star Wars tomou de volta seu lugar ao bater a marca de E.T. nas cifras das bilheterias.
Recentemente, um comercial da empresa Xfinity arrancou suspiros dos fãs ao promover um reencontro entre Elliot, agora um adulto com sua própria família, e o E.T. que volta para visitá-lo mais de trinta anos depois de seu último encontro, fato que movimentou comentários e promoveu inúmeros acessos ao vídeo por todo o mundo.
Mas antes de ser um blockbuster, um fenômeno de bilheteria, E.T. é uma história sobre amizade, sobre o carinho entre dois seres tão distintos, mas ligados por um laço que vai além das distâncias que envolvem o espaço e o tempo... o amor.
Um filme inesquecível, que marcou história no cinema, e também nos corações dos fãs.

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Os Intocáveis

Lançado em 1987 e dirigido por Briam de Palma, Os Intocáveis (The Untouchables) é um filme baseado em fatos reais, e que nos apresenta a história ao redor da busca de Elliot Ness (Kevin Costner), um agente do tesouro americano, pela prisão do célebre criminoso e mafioso Al Capone (Robert de Niro), que acabou seus dias na igualmente famosa prisão de Alcatraz.
Na história, acompanhamos a dedicação de Ness, implacável em sua jornada para pegar Capone, bem como a formação de sua equipe composta por policiais e agentes, que ficou conhecida como “Os Intocáveis”, em virtude das sucessivas negativas de recebimento de suborno oferecido pelo criminoso conhecido como “Scarface”.
O filme conta com uma trilha sonora que é um espetáculo à parte, composta por ninguém menos que o saudoso Enio Morricone, e traz um roteiro impactante e atuações impecáveis, uma delas realizada por Sean Connery, que viveu o policial irlandês-americano Jim Malone, tendo seu trabalho reconhecido ao receber o Oscar de melhor ator coadjuvante por esta incrível interpretação, que enche os olhos e permanece como uma das maiores heranças deste famoso ator que nos deixou recentemente.
Os Intocáveis marcou época, conquistou seu lugar na história do cinema e nos apresenta uma história rica, com grandes interpretações, trilha sonora incrível e uma direção de ninguém menos que Briam de Palma, o que o torna uma obra quase que obrigatória que mescla qualidade e diversão para o telespectador.
Assistam, que vale muito à pena.

Impressões sobre obras: Bem-vindo

Halloween

E para o Halloween vamos falar de um filme cujo nome é... Halloween.
Lançado em 1978, “Halloween A Noite do Terror” (Halloween) é um filme dirigido por John Carpenter, famoso diretor norte-americano, enquadrando-se no gênero terror e suspense, e gerou diversas outras sequências, tendo a última delas entrado em cartaz em 2018.
Na história, conhecemos a cidade fictícia de Haddonfield, Illinois, local onde em 1963, na noite de 31 de outubro (noite de Halloween) um terrível assassinato acontece, quando uma criança de apenas seis anos, Michael Myers, vestindo uma fantasia de palhaço assassina a irmã com uma faca de cozinha. Avaliado como insano o menino é internado em um manicômio judicial, onde permanece em um estado parcialmente catatônico até conseguir fugir, quinze anos depois.
O problema é que Michael, agora um homem enorme e extremamente forte, continua com seu instinto assassino, e volta à sua cidade natal exatamente no Halloween, adotando agora uma estranha e aterrorizante máscara e passando a cometer um assassinato atrás do outro no local, claro, com uma enorme faca de cozinha.
Michael então depara-se com Laurie Strode (interpretada por uma jovem e ainda não famosa Jamie Lee Curtis), que passa a ser por ele perseguida. Depois de muito sangue, gritos e atrocidades cometidas por Meyers, Laurie, com a ajuda do Dr. Loomis (Donald Pleasence), psiquiatra que trata do assassino desde a infância, consegue deter o psicopata, que acaba por desaparecer no final do filme, mantendo a atmosfera de terror e suspense, e abrindo espaço para as diversas sequências que vieram em seguida.
Halloween marcou história, abrindo espaço para um gênero que gerou diversas outras obras. O filme original não apresenta cenas exageradas de sangue, e nem traz imagens horrendas de monstros ou algo do gênero, mas preza principalmente pelo suspense gerado em torno da figura de Michael, pelo talento de Carpenter na direção do longa e, claro, pela inesquecível e assustadora trilha sonora, que mexe com os nervos do espectador a cada acorde tocado.
O filme lançou também ao estrelato a jovem Jamie Lee Curtis, que marcou seu espaço na indústria cinematográfica, se tornando posteriormente uma das atrizes mais famosas de Hollywood.
Algumas curiosidades permeiam a obra. Michael Myers é vivido por três atores no filme, o jovem Will Sandin, que o interpreta aos seis anos, Tony Moran, como Michael sem máscara, e Nick Castle, que aparece como a imagem que todos aprenderam a temer, Myers de uniforme, máscara, e faca na mão.
Outro ponto interessante do filme é referente à máscara perturbadora utilizada por Michael Myers, mas para conhece-lo você terá de visitar a sessão “Você Sabia?”, onde falo um pouco mais sobre isso.
Halloween virou sucesso no mundo todo, e gerou diversas outras sequências (nem todas de muita qualidade), inclusive com a participação de Jamie Lee Curtis voltando ao papel de Laurie, e uma boa refilmagem, mas que não repete o êxito do original.
Recentemente, em 2018, foi lançada uma nova sequência, desta vez desconsiderando todas as outras já feitas, trazendo de volta Jamie Lee Curtis no papel de Laurie, que agora já com a idade avançada e repleta de traumas por causa do terror causado por Michael, tem de viver com o medo constante de sua volta, o que acaba acontecendo.
Laurie então tem que enfrentar novamente Michael, e ainda proteger a filha e a neta enquanto lida com o assassino, que desta vez não encontra uma jovem amedrontada, mas uma mulher madura, violenta e armada até os dentes à sua espera.
Halloween não é um filme cheio de efeitos visuais ou recursos de tela, e nem apresenta um personagem deformado ou assustador, mas consegue, através da discrição na exploração do medo, arrepiar até o último dos fios de cabelo.
Um dos melhores, senão o melhor filme do gênero.
Assistam, e claro, deem uma olhada para trás de vez em quando.
Vai que...

Impressões sobre obras: Bem-vindo

Tubarão

O ano é 1975. Você está naquela animação porque o verão está em alta. Já comprou aquela sunga legal ou aquele biquíni da moda e não vê a hora de pegar um sol e dar um mergulho super gostoso no mar. Mas então, antes de fazer isso, resolve dar uma passadinha no cinema e assistir um dos filmes que está em cartaz. E o nome dele é “Tubarão”.

Confesso que ainda não havia nascido na época, mas tento imaginar a face das pessoas saindo das salas de cinema, bem como a expressão em seus rostos antes de entrar no mar depois disso.

Lançado em 1975 e dirigido por ninguém menos que Steven Spielberg, “Tubarão” (Jaws) é um filme de suspense baseado no livro homônimo escrito por Peter Benchley, e não apenas lançou ao estrelato Spielberg, que ainda estava no início da carreira, como também se tornou um marco na história do cinema.

O longa retrata o dia a dia de uma pacata e fictícia cidadezinha praiana chamada “Amity Island”, situada na Nova Inglaterra, EUA, que está animada e de portas abertas para os turistas que a visitam na alta estação. No entanto, estranhos ataques começam acontecer, deixando em polvorosa as autoridades e os habitantes e frequentadores do local.

Uma dessas autoridades é o chefe de polícia Martin Brody (Roy Scheider), que repentinamente vê sua vida passar por uma reviravolta com a onda de ataques que abala o local, especialmente após descobrir que o responsável é um enorme e agressivo tubarão, mais precisamente da espécie Carcharodon carcharias, nome científico do grande Tubarão Branco (sentiu um arrepio? Eu senti).

A princípio, Brody tenta fechar as praias, mas se depara com a politicagem das demais autoridades, que não querem que a cidade seja prejudicada com a debandada dos turistas, até que a coisa muda quando uma criança é morta pelo tubarão. Nesse momento, o chefe de polícia ganha carta branca para agir, e se une a Quint (Robert Shaw) um pescador local um tanto que assustador, e a Matt Hooper (Richard Dreyfuss), um oceanógrafo especialista em tubarões, saindo numa caçada perigosa, dramática e cheia de suspense ao animal.

 O longa marcou gerações, venceu três oscars (além de também ter sido indicado para a categoria de melhor filme), e lançou ao estrelato o jovem diretor Steven Spielberg, que teve a inteligência de usar o suspense como um dos agentes principais do filme, tendo em vista os constantes problemas que teve com o funcionamento do robô que retratava o tubarão branco, deixando para usá-lo apenas em cenas essenciais.

Outro componente repleto de genialidade e que arrepia os cabelos de quem o escuta até hoje é a trilha sonora criada para o filme por ninguém menos que John Willians, que é simplesmente o criador de temas épicos como os de Star Wars, Indiana Jones, E.T. - O Extraterrestre, Superman e Jurassic Park. A música é repleta de suspense, que se eleva em tons perturbadores que ampliam a sensação de que o enorme tubarão está bem perto, e prestes a atacar, e chegou inclusive a ser premiada com o Oscar em 1976.

“Tubarão” é um filme repleto de suspense, mas também possui momentos de sensibilidade e emoção, especialmente os que envolvem o chefe de polícia Brody. Uma história épica, que marcou e tem marcado gerações desde o seu lançamento, valendo muito à pena ser assistido... especialmente no verão.

Impressões sobre obras: Bem-vindo

Quero ser grande

Lançado em 1988, e estrelado por Tom Hanks, “Quero ser Grande” (Big) conta a história de Josh Baskin, um típico garoto de doze anos que mora com a família, e que certo dia, depois de sofrer gozações por parte de outros jovens um pouco mais velhos por não ter altura o suficiente para entrar na montanha russa de um parque de diversões, vai até outra atração desse mesmo parque, uma máquina de desejos com um personagem chamado “Zoltar”.
Ao acionar a máquina, Josh deseja ser grande, e de imediato nada acontece. No entanto, ao acordar em seu quarto no dia seguinte, Josh descobre que já está com trinta anos, e acaba sendo expulso de casa pela mãe, achando que aquele adulto é na verdade um invasor.
Com a ajuda de seu melhor amigo, Billy Kopecki, que acaba por reconhece-lo, Josh tem de se virar e arranjar um lugar para morar, e acidentalmente consegue um emprego na loja de brinquedos “Macmillan Toy Company”, onde ganha a admiração do dono da empresa, o Sr. Macmillan (Robert Loggia) que faz dupla com ele em uma das cenas mais famosas da cultura pop, quando ambos dançam em cima de um enorme teclado de brinquedo, tocando a famosa música “Chopsticks”(para quem não conhece é aquela canção que tocava no comercial do Danoninho, mas claro, sem aquela letra).
Após conseguir o emprego dos sonhos, testando brinquedos para a Macmillan Toy Company, Josh passa a se meter em uma série de encrencas divertidas, que com a interpretação de um jovem Tom Hanks se tornam ainda mais engraçadas.
No entanto, Josh acaba se deparando com a realidade de que não pode pular a juventude para tornar-se um adulto, e já triste e com saudades da família, acaba reencontrando a máquina do parque de diversões, onde desta vez pede para voltar a ser um garoto, desejo que é atendido, proporcionando ao rapaz a oportunidade de voltar para seu lar e viver na plenitude a sua juventude.
“Quero ser grande” é um marco na cultura dos anos 80, e mais um filme que se tornou uma presença constante na “sessão da tarde” e na vida de muitos jovens que viveram aquela época, mostrando uma história leve, divertida e que nos faz ver a importância da infância na vida de cada um de nós.
Então, nesse dia das crianças, prepare seu balde de pipoca e assista a essa comédia divertida com um jovem e engraçado Tom Hanks (ótimo, como de costume), e se tiver a oportunidade, deseje ser jovem novamente.
Vai que esse desejo é atendido.

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O Médico e o Monstro

Da autoria de Robert. L. Stevenson e publicado em 1886, “O Médico e o Monstro” (Strange Case of Dr. Jekyll and Mr. Hyde), narra a história do pacato e bem quisto Dr. Henry Jekyll, um médico discreto e cheio de amigos que vive na Londres da época e que possui uma estranha e peculiar relação com uma figura inteiramente oposta a ele, o repugnante Edward Hyde.
Na trama, o advogado de Jekyll, Gabriel John Utterson, interessado em uma história que ouviu de seu parente Richard Enfield acerca do estranho Hyde, e curioso em virtude de outros fatos envolvendo as mesmas figuras, passa a investigar mais de perto a vida e o comportamento de Henry Jekyll.
Sumiços repentinos de Jekyll, somados a um estranho testamento que deixa todos os seus bens para o misterioso Hyde acabam aguçando ainda mais a curiosidade de Utterson, que passa a investigar com mais atenção toda a situação, até descobrir, em uma revelação feita pelo próprio médico, que as pessoas de Dr. Jekyll e Mr. Hyde, tão diametralmente opostas, são na verdade o mesmo homem.
Em sua incansável curiosidade científica, Jekyll concluiu que o ser humano possui dois lados, um bom e nobre, e outro perverso e cruel, que digladiam-se constantemente em busca do controle da alma. Fascinado pelo tema ele acaba criando uma fórmula que possui o condão de separar essas partes, permitindo, ao menos em tese, que o indivíduo possa escolher a metade que melhor lhe aprouver.
Ao beber a poção, o sempre pacato e tranquilo Dr. Jekyll transforma-se no grotesco e desprezível Mr. Hyde, sua metade maligna, e passa a praticar os atos mais infames e reprováveis que se possa imaginar. No entanto, Hyde, que sempre fora a metade mantida sob controle, encontra na fórmula a oportunidade de assumir o domínio, e com o tempo esse alter ego passa a surgir mesmo quando o médico não bebe a droga, passando a atormentá-lo constantemente.
É nesse momento que Dr. Jekyll isola-se de tudo e de todos, chegando ao clímax da história quando Utterson, em suas investigações, acaba por descobrir tudo, culminando em um fato surpreendente que você descobrirá lendo o livro.
O Médico e o Monstro é uma história sobre a dualidade humana, sobre o conto do lobo bom e do lobo ruim, e como será mais forte aquele que você alimentar, mostrando que todos temos um lado perverso e imoral, que deve ser contido a todo instante em um conflito constante onde não se pode baixar a guarda em momento algum.
Um excelente livro, cuja leitura é garantia de ótimo entretenimento e aprendizado.

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Pantera Negra

Na última sexta-feira, 28 de agosto, o mundo do entretenimento foi surpreendido com a triste e repentina notícia do falecimento de Chadwick Boseman, um talentoso ator que batalhava contra um câncer de cólon desde 2016. Para quem não conhece o artista pelo nome, provavelmente lembrará dos filmes que este estrelou, dentre os quais destacam-se “Get on Up”, a cinebiografia do rei do Soul, James Brown, e talvez o mais famoso deles, o Rei T’challa, o herói Pantera Negra da editora Marvel Comics.
E é em homenagem a este talentoso e já saudoso artista que falaremos essa semana deste importante filme, que ultrapassou o status de adaptação de quadrinhos para alcançar um lugar bem mais representativo na cultura mundial.
Lançado em 2018, “Pantera Negra” conta a história do herói homônimo, defensor de Wakanda, um país fictício localizado na África, e que oculta do mundo a realidade de ser uma das nações mais avançadas do planeta. No filme, acompanhamos T’challa, príncipe de Wakanda, que após a morte do pai (ocorrida em “Capitão América – Guerra Civil”), é obrigado a assumir o reino, dividindo o tempo entre a posição de monarca e a de campeão e defensor de sua nação.
Após assumir o trono, T’challa descobre que tem um primo, do qual sequer sabia da existência, e por quem é desafiado, vindo a ser derrotado por ele e tendo de batalhar posteriormente para recuperar seu lugar de direito, acabando por descobrir também que o pai não era o exemplo de perfeição que ele acreditava ser, o que faz com que tenha de confrontar o resultado dos erros cometidos por seu genitor no passado.
Mas para além de uma adaptação em quadrinhos, “Pantera Negra” revelou-se como um marco cultural, reconhecendo e enaltecendo a importância e a riqueza da cultura negra e tornando um personagem que antes fazia parte do segundo escalão dos quadrinhos da editora Marvel Comics em um de seus mais importantes super-heróis.
Muito disso se deve ao excelente roteiro assinado por Joe Robert Cole e Ryan Coogler, à direção de Ryan Coogler e, claro, à excepcional atuação de Chadwick Boseman, que com seu talento e carisma conquistou não apenas quem já era fã do personagem, mas também quem sequer o conhecia, marcando nas bocas e mentes de toda uma legião de admiradores a icônica frase “Wakanda Forever”.
Infelizmente a vida real não seguiu o rumo da ficção, e Boseman nos deixou na última sexta-feira, após uma batalha de quatro anos contra o câncer, luta essa que o ator travou bravamente, em segredo, e chegando a rodar vários filmes, incluindo Pantera Negra e as sequências de Vingadores entre cirurgias e tratamentos quimioterápicos.
Concluo não com uma indicação do filme, já que não é preciso, tendo em vista a qualidade indiscutível dessa tão importante e excelente obra, tanto no aspecto do entretenimento, como também, e principalmente, no cultural, mas termino com uma singela homenagem a este ator que deu vida a tantos personagens com tamanho talento e mestria, e que com certeza teria ainda muito encantamento a oferecer aos olhos dos espectadores do mundo inteiro.
Heróis não morrem jamais, mas vivem como exemplos em nossas memórias e em nossos corações, e você, Chadwick, é um deles.
Wakanda Forever!

Impressões sobre obras: Bem-vindo

O Iluminado (Filme)

Sim, já falei sobre “O Iluminado” nesta seção, mas naquela oportunidade abordei o fantástico livro de autoria de um dos meus escritores favoritos, Stephen King, ao passo que hoje tratarei exatamente da adaptação para o cinema dessa excelente e assustadora história.
Como já dito antes por aqui, Stephen King é o escritor com o maior número de obras já adaptadas para várias mídias, seja para o cinema, seja para séries televisivas, sendo bastante provável que você já tenha assistido alguma por aí, e uma das mais famosas é exatamente “O Iluminado” (The Shining), baseado na obra literária homônima, e produzido e dirigido por ninguém menos que Stanley Kubrick, lançado em 1980 com Jack Nicholson no papel de Jack Torrance, e Shelley Duvall como intérprete de Winifred “Wendy” Torrance, e Danny Lloyd, como Danny Torrance.
A história, assim como no livro, aborda a vida da família Torrance, que tem Jack, o pai, como um escritor promissor, porém frustrado, que possui sérios problemas de agressividade e alcoolismo, e que aceita um emprego como zelador do Hotel Overlook, localizado nas montanhas rochosas, nos EUA, e que ficará fechado e isolado no período de inverno, tendo apenas Jack e a família como hóspedes. O problema é que existem outros habitantes ali, daqueles que poucos podem ver, e que ninguém quer receber.
O hotel na verdade é assombrado por espíritos que ali habitam, sendo o próprio lugar uma espécie de entidade aterradora e cheia de maldade, que identifica de imediato os poderes do pequeno Danny assim que ele chega, uma vez que o termo “Iluminado” refere-se à iluminação do menino, modo como são tratados seus talentos paranormais, e passa a querer a todo custo consumir a criança, usando, para tanto, o pai do jovem, o problemático Jack Torrance.
A história em si é fantástica, e o trabalho que Kubrick faz no longa é digno de nota, no entanto, há um detalhe que influencia bastante na opinião final que se terá do filme. O fato de se você leu ou não o livro.
Para quem não leu a obra, o filme é inesquecível, com excelentes atuações de Jack Nicholson (como de costume) e de Shelley Duvall, além de uma ótima direção de Kubrick, o que não é nenhuma novidade.
Entretanto, para quem já teve a oportunidade de ler a obra, o longa acaba se mostrando um pouco frustrante, especialmente por modificar demais vários aspectos do livro, incluindo o final, além de deixar raso demais o personagem de Jack Torrance, que é reduzido no longa a nada mais que um louco possuído, e de retirar do espectador a oportunidade de assustar-se e impressionar-se ainda mais com o próprio hotel, esse sim o maior foco de terror da obra literária.
O próprio Stephen King é até hoje um dos maiores críticos do filme, tendo definido o longa como “um belo carro, mas sem motor”.
O fato é que o filme é muito bom, não tanto quanto o livro, estando, aliás, muito aquém da qualidade vislumbrada na obra de King, mas o que também não o torna um longa ruim. Tendo ou não lido a obra literária, o espectador fica admirado... porém, para quem teve a oportunidade de deliciar-se com o talento de Stephen King, o filme sempre deixará aquela sensação de que faltou algo mais, e de que poderia ter sido bem melhor.
Mas ainda assim vale à pena ser assistido, até porque, como já dito acima, o filme pode não se excelente como o livro, mas é muito, muito bom.

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A Vida é Bela

Um filme para rir e para se emocionar. Lançado em 1997, “A Vida é Bela” (La Vitta è Bella) traz a história de Guido Orefice (Roberto Benigni), um judeu dono de uma livraria na Itália fascista no período da segunda guerra mundial, e de seu filho, o pequeno Giosué, que são presos e enviados para um campo de trabalhos forçados na Berlim da Alemanha nazista.
Bem humorado e apaixonado pelo filho, o livreiro tenta de todas as formas poupar a criança dos horrores que rodeavam a vida dos judeus presos em campos de concentração neste período tão tenebroso de nossa história. Para tanto, Guido finge para o pequeno Giosué que tudo aquilo pelo que estão passando não passa de um jogo, e que até mesmo os nazistas são participantes que ensaiam um papel naquela disputa, o que acaba poupando o menino de entender o terror que todos naquela prisão vivenciavam.
O filme consegue mesclar com sensibilidade ímpar a comédia e o drama, tirando do espectador várias risadas sem que se perca o respeito com a história e o sofrimento das vítimas desta lamentável página da história da humanidade, situação que também é retratada, especialmente nos momentos em que Guido tenta a todo custo evitar que Giosué veja e entenda o que de fato está acontecendo.
O esforço empreendido pelo pai, que retrata o amor puro e sincero que sente pelo filho, retiram, em vários momentos, algumas lágrimas do espectador, que inevitavelmente se emociona com a simplicidade e dedicação que Guido sente por Giosué, conseguindo, ao fim de tudo, salvar não apenas a vida do garoto, mas também a sua inocência dos horrores vivenciados pelos judeus nos campos de concentração.
A qualidade do longa foi reconhecida através de diversos prêmios recebidos posteriormente, merecendo menção os Oscars de melhor filme estrangeiro, melhor ator, para Roberto Benigni, e melhor trilha sonora para filme dramático, recebidos na cerimônia de premiação de 1999.
A vida é bela é daqueles filmes que conseguem retratar o amor, a dedicação e a amizade que todo pai deveria ter para com seu filho. Uma história para rir, chorar, e se emocionar de todas as formas.

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Blade Runner

Lançado em 1982 o filme baseia-se na célebre obra de Philip K. Dick, "Androides sonham com ovelhas elétricas?", um livro com título inusitado e conteúdo excepcional.
A história mostrada no filme, que se passa em novembro de 2019, apresenta uma Los Angeles conturbada em um futuro distópico, onde alguns habitantes ainda insistem em viver na terra poluída e decadente ao invés de se deslocarem para colônias humanas localizadas em outros planetas.
Com o avanço tecnológico a indústria passa a fabricar Androides tão semelhantes aos humanos que podem ser confundidos com eles.
Após um motim, os Androides (nominados de replicantes) são banidos da terra para trabalharem em colônias interplanetárias, e os que se arriscam a entrar ilegalmente no planeta são caçados e aposentados por caçadores conhecidos como Blade Runners.
Liderando um grupo de fugitivos, o Androide Roy Batty (vivido magistralmente pelo saudoso Rutger Hauer) passa a ser caçado por Rick Deckard (interpretado por Harrison Ford), em uma busca repleta de reviravoltas e revelações.
É de Roy Batty uma das falas que ficaram marcadas na história do cinema, dita quando está prestes a morrer e logo após ter salvo a vida de seu caçador:
"Eu vi coisas que vocês, humanos, nem iriam acreditar. Naves de ataque pegando fogo na constelação de Órion. Vi Raios-C resplandecendo no escuro perto do Portão de Tannhäuser. Todos esses momentos ficarão perdidos no tempo, como lágrimas na chuva. Hora de morrer."
Blade Runner é um daqueles filmes que marcaram época, trazendo uma visão de futuro pessimista, mas com inovações que de fato chegaram à nossa época, como inteligência artificial e outros tipos de gadgets.


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 Carrie - A Estranha

Sou um suspeito para falar das obras de Stephen King, visto que tenho verdadeira paixão pelos livros deste fantástico escritor, conhecido, dentre outras coisas, por ser o autor mais adaptado da história do cinema.
Vasculhando seu arquivo de memórias, tenho quase certeza que vai encontrar pelos menos uma adaptação dos livros de King, seja no formato de série, seja no de filme. Citando apenas alguns, temos It – A coisa, O Iluminado, Carrie - A Estranha, Cemitério Maldito, Louca Obsessão, A Torre Negra, Novembro de 63, Conta Comigo e várias outras histórias fantásticas que saíram da mente criativa e talentosa deste escritor.
Mas encerrado o momento de adulação, vamos falar hoje do primeiro romance publicado, e um dos mais famosos de King, “Carrie - A Estranha”.
Publicado em 1974, o livro retrata a história de Carrieta White, uma garota americana, tímida e deslocada, excluída do meio dos “populares” que usualmente vemos nas escolas e que sofre perseguição e bullying por parte de algumas de suas colegas. Parece mais uma típica narrativa dos sofrimentos pelos quais os adolescentes impopulares passam não é? Pois é, apenas parece.
O que diferencia Carrie das outras garotas de sua idade é uma característica peculiar que lhe trás um dom especial. A Telecinesia. Para quem não sabe, telecinesia é, de acordo com os estudiosos que creem nesta teoria, a habilidade de mover objetos à distância, usando apenas o poder da mente.
Pois bem, a pobre Carrieta White é possuidora deste dom, que é pouco conhecido por ela, e que ainda está sendo desenvolvido e controlado, o que faz com que gere fenômenos que escapem à compreensão da própria garota. Para piorar tudo, a mãe de Carrie, Margaret White, é uma fanática religiosa, que acredita que a garota é um fruto do pecado, e que seus dons são obra do demônio.
Carrie então tem que lidar com os problemas típicos de toda adolescente (especialmente as que sofrem com bullying), com uma mãe fanática e com poderes que ela própria desconhece. Dureza, não? E é exatamente essa série de complicações que fazem com que a história culmine com um evento verdadeiramente aterrador, causado por uma humilhação pública sofrida pela jovem, que acaba perdendo o controle de seus poderes, que não são poucos, causando um estrago sem precedentes na fictícia cidade de Chamberlain, no Maine.
Carrie - A Estranha, é um dos melhores livros de King, e já foi adaptado para diversas mídias, inclusive para a Broadway. Conta com vários longa-metragens, o primeiro de 1976, e o último de 2013, e para muito além de uma história de ficção, retrata bem os dramas vividos pelos adolescentes naquela fase onde tudo o que querem é a aceitação dos demais, problemática que ganha contornos ainda maiores quando se trata dos jovens que sofrem com bullying e perseguições, um problema visto por muitos erroneamente como bobagem, mas que causa verdadeiros estragos psicológicos e traumas que muitas vezes jamais são superados.
O livro é dinâmico, emocionante e assustador na medida certa, fazendo com que o leitor repense alguns conceitos, especialmente se de fato o bullying é uma “bobagem”, como alguns equivocados pensam.
Acompanhe Carrie através da escrita única de King, e se delicie com essa obra. Vale muito à pena.

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The Doors

Is everybody in? Is everybody in? Is everybody in? The ceremony is about to begin.
E assim começavam algumas apresentações da banda The Doors, com essa icônica frase dita por Jim Morrison, como que convocando seus fãs para o início de uma apresentação imprevisível e cheia de surpresas.
É sobre o filme que retrata a história deste conjunto musical que venho falar essa semana. The Doors.
Lançado em 1991, o filme retrata a história da banda de mesmo nome, que fez enorme sucesso nos EUA entre os anos de 1967 e 1971, quando chegou ao fim prematuramente. Dirigido por Oliver Stone, o longa causou polêmica, especialmente em virtude do clima tenso e pesado com o qual retratou parte da vida de Jim Morrison, vocalista do conjunto que faleceu no início da década de 70, pouco depois do término do grupo.
A película mistura tons sombrios com experiências psicodélicas, e em boa parte retrata Morrison como uma pessoa problemática e autodestrutiva, que faz constante abuso de drogas e álcool, mistura que acabou por leva-lo à morte ainda jovem, aos vinte e sete anos de idade.
A forma como a história foi retratada chegou a sofrer inúmeras críticas do tecladista e co-fundador da banda, Ray Manzarek (1939-2013), que além de formação em música clássica era também graduado no curso de cinema da UCLA, onde conheceu Morrison e junto com ele fundou a icônica banda. Ray tinha como intento rodar ele mesmo um filme sobre o conjunto, mas acabou sem concretizar tal projeto.
Há que se destacar que o roteiro é baseado no livro “Riders on The Storm” (que também é o nome de uma música do grupo), escrito por John Densmore, baterista da banda, cuja relação com Morrison não era das melhores, algo que nunca foi negado pelo percussionista em seus relatos.
A despeito de tudo isso, quer queira, quer não, o filme causa impacto, retrata com fidelidade a mentalidade e os hábitos da juventude que viveu entre a metade e o final da década de sessenta, e reproduz a cena musical da época de forma fidedigna. Quanto a Jim Morrison, que sempre foi o maior destaque da banda, a cena se repete, já que é Val Kilmer, que interpreta o vocalista, a figura que sobressai no longa.
Com uma intepretação digna de nota, Kilmer retrata Morrison de forma única, e em vários momentos chega a confundir-se com a figura do inesquecível vocalista, poeta e escritor, que partiu de forma prematura do mundo das artes ao falecer em seu apartamento em Paris, em 1971.
O filme também destaca a conturbada relação entre Jim e Pamela Courson, sua companheira com quem conviveu até morrer, e a incerteza que acompanhava os demais membros da banda, que nunca sabiam como Morrison se comportaria nos shows ao vivo, mostrando, além disso tudo, a ideia de Oliver Stone acerca das visões de índios que o vocalista tinha, já que era história conhecida a narrativa do cantor de que era acompanhado pelas almas de indígenas que vira morrer em um acidente na estrada quando ainda era criança.
Neste ponto, Stone leva ao filme várias cenas em que Jim é retratado como uma espécie de Xamã em rituais indígenas, levando os amigos a viagens transcendentais onde via muito além do que as pessoas comuns enxergavam.
O fato é que The Doors, a despeito da polêmica levantada por mostrar uma imagem negativa e autodestrutiva de Jim Morrison, é um ótimo filme, bem dirigido, com uma trilha excelente (as músicas de Morrison e da banda), e com atuações marcantes, especialmente a de Val Kilmer, que soube, apesar da constante retratação de abusos de álcool e drogas, mostrar um pouco da sensibilidade da alma do vocalista, que para além de astro do rock era também poeta, escritor e cineasta, um enorme talento que se foi cedo demais, em uma carreira meteórica, mas que deixou sua marca e seu legado, que persiste até hoje no mundo das artes.
Confiram.

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Curtindo a Vida Adoidado

Hoje vamos de um clássico dos anos 80 e um dos maiores filmes já feitos, que marcou gerações inteiras e continua angariando fãs ao redor do mundo, mesmo tendo-se passado mais de três décadas desde a data de sua estreia.

Lançado em 1986, “Curtindo a Vida Adoidado” (Ferris Bueller’s day off) é uma das obras primas do saudoso e multipremiado diretor John Hughes, que também foi responsável pelo lançamento de outros marcos, como “Clube dos Cinco”, “Gatinhas e Gatões”, “Mulher Nota 1000”, “Esqueceram de Mim” e “Esqueceram de Mim 2”, além de vários outros filmes.

 O filme aborda a história do sagaz Ferris Bueller (Matthew Broderick em seu melhor papel), um adolescente aluno do ensino médio que uma bela manhã decide que o dia está bonito demais para ser desperdiçado assistindo aula.

Com o plano todo traçado em sua cabeça, Ferris vai atrás de seu melhor amigo, o tímido e problemático Cameron Frye (Alan Ruck) a quem acaba convencendo a pegar escondido nada menos que a Ferrari do pai, um carro caríssimo, a quem o velho dedica mais atenção do que à própria família.

Como terceira componente da aventura surge Sloane Peterson (Mia Sara), a namorada de Ferris, que embarca em uma viagem onde os três percorrerão a grande Chicago, se metendo em todo tipo de peripécias e confusões. Mas os jovens não estão sozinhos, e em seu rastro está o insuportável Diretor Rooney (Jeffrey Jones), que quer a todo custo pegar Ferris para reprova-lo, já que o jovem possui um amplo histórico de faltas escolares.

Correndo por fora conhecemos Jeanie Bueller (Jennifer Grey), a irmã mais velha de Ferris, que detesta o fato de que o garoto sempre arruma um jeito de sair bem das confusões que apronta, e que o inveja por ser popular e queridinho de todos. Jeanie também tenta pegar Ferris durante o filme, mas acaba por salvar a pele do irmão no momento em que ele mais precisa.

A obra é um marco, e como de costume, Hughes consegue mesclar comédia com os desafios e problemas vivenciados pelos adolescentes, fazendo isso de uma forma cheia de sensibilidade, como na cena do museu, em que os jovens apreciam as obras de arte, cada um a seu modo, e no momento em que Cameron deixa de ser o jovem tímido e fechado em uma concha para finalmente dar seu grito de liberdade, decidindo enfrentar o pai que valoriza mais a Ferrari do que a família.

O filme é dinâmico, engraçado, emocionante, e possui uma série de cenas antológicas, merecendo menção especial a da parada no centro de Chicago, onde Ferris se mete, sabe-se lá como, em cima de um carro alegórico, e a multidão dança ao som de “Twist and Shout”, uma das melhores músicas dos Beatles. Um prato cheio para os fãs de cinema.

O filme possui outra característica peculiar, que é a chamada “quebra da quarta parede”, expressão utilizada para definir as obras onde os atores conversam diretamente com a plateia durante a história, recurso constantemente utilizado por Ferris para explicar seus pontos de vista, seus planos, e até mesmo o histórico de cada personagem.

Também fez uso de outro expediente bastante utilizado recentemente, especialmente nos filmes de super-heróis, que são as conhecidas “cenas pós créditos”, onde após o final, quando as famosas letrinhas já estão subindo, surge uma cena nova para premiar a plateia que achava que a história já chegara ao fim.

Curtindo a Vida Adoidado é um dos melhores filmes já feitos, tendo marcado história não apenas para a geração dos anos 80, mas também das seguintes, continuando a angariar fãs pelo mundo todo, mesmo tendo-se passado mais de trinta e quatro anos desde o seu lançamento, e ainda encantando este que vos escreve, que sempre que tem a oportunidade, enche um balde de pipoca para acompanhar Ferris e seus amigos em suas peripécias.

É um dos poucos que não assistiu ainda? Então pare de ler nesse momento e vá ver. Já viu milhares de vezes, como eu? Então pare de ler também e vá assistir de novo, porque é exatamente isso que vou fazer agora.

E antes que eu esqueça... Tchi tchi tchi cááááá (Entendedores entenderão).

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Um Pilar de Ferro

O livro que fez com que eu me apaixonasse pelo direito. Da autoria de Taylor Caldwell (1900-1985), publicado em 1965, a obra narra a história de Marco Túlio Cícero (106-43 a.c) um dos maiores juristas de todos os tempos e até hoje aclamado pelo conhecimento jurídico e pelo talento nos debates enfrentados na defesa de suas causas.
Caldwell uma vez mais faz uso de seu talento e de sua sensibilidade para mesclar realidade com romance. A autora, responsável por romantizar outras biografias, tais como as de São Paulo e de São Lucas, mistura fatos que realmente aconteceram com ficção elaborada a partir de minuciosas pesquisas históricas, o que transforma suas obras em agradáveis viagens no tempo.
Neste livro podemos ver as frustrações, os romances e os inúmeros e emocionantes debates que Cícero travou em suas defesas e discursos, especialmente as célebres “Catilinárias”, onde o advogado e Cônsul denunciou para o senado romano a tentativa de golpe orquestrada pelo senador Lúcio Sérgio Catilina, que culminou com o exílio deste último.
Para quem gosta de debates elaborados e emocionantes é um prato cheio, sem perder o encanto de uma obra romantizada, sendo este um dos maiores talentos desta inesquecível autora que tem em seu currículo a publicação de mais de quarenta livros.
Aproveitem.

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Mitologia Nórdica

Para quem gosta de mitologia, especialmente a dos povos nórdicos, esse livro é um prato cheio.
Escrito por Neil Gaiman, célebre autor de contos, romances, roteiros e quadrinhos, e também criador das histórias do famoso personagem “Sandman”, a obra “Mitologia Nórdica” faz uma sucinta e nem um pouco cansativa apresentação de todos os personagens e narrativas do cenário mitológico criado com o passar do tempo pelos povos escandinavos.
Se você não é familiarizado com nomes como Thor, Odin, Loki, Asgard, Midgard e vários outros, ao ler este livro terá uma verdadeira aula sobre esses personagens que influenciaram autores de renome, a exemplo de Tolkien (criador de nada mais, nada menos que “O Senhor dos Anéis”), além de outras mídias, como os quadrinhos e o cinema, mais especificamente com a Marvel Comics, que deu a sua própria roupagem a estes expoentes, tais como os quadrinhos e filmes de Thor.
Gaiman apresenta de forma pormenorizada e ao mesmo tempo dinâmica cada uma destas histórias, desde a criação do mundo até o Ragnarök (que significa “destino dos deuses”, em tradução), narrativa que representava o fim dos tempos para os nórdicos.
Ah, e se você pensa que vai se deparar com um Thor bonitão e bonachão como o dos filmes, pode tirar o jumento do toró, porque na mitologia nórdica o filho de Odin e um dos principais Aesir era bem diferente da forma como foi retratado nos cinemas pela Marvel Studios, sem deixar de ser, no entanto, bem divertido e interessante.
O livro certo para apaixonados por mitologia, histórias fantásticas e influências culturais, especialmente em autores, idiomas e na cultura britânica.
Não deixem de ler.

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De Volta Para o Futuro

Quem nunca quis viajar no tempo? Quem nunca quis voltar para mudar péssimas decisões que tomou no passado, ou para reviver os bons momentos que guarda com tanto carinho na memória? Ou mesmo para matar a curiosidade de como serão os dias em um futuro próximo, ou não tão próximo assim.
A viagem pelo continuum espaço-tempo sempre foi e continua a ser uma das maiores fantasias do bicho humano, e já foi tema de livros, filmes e das mais diversas mídias e artes que a criatividade já permitiu desenvolver. E uma delas foi exatamente o filme do qual iremos falar... De Volta Para o Futuro (Back to The Future).
A escolha da semana foi feita porque, além de tratar-se de um dos melhores filmes já feitos, seguido de duas continuações geniais, De Volta Para o Futuro acabou de completar, no último dia 20 de maio, trinta e cinco anos de seu lançamento. Nesse ponto voltamos a 1985, quando os cinemas do mundo todo pararam para que os espectadores entrassem em um Delorean para acompanhar Marty Mcfly, vivido pelo jovem Michael J. Fox, até o ano de 1955, para passar por diversas aventuras até conseguir, finalmente, voltar para casa.
Na história Marty é um típico garoto norte-americano, com talento para música e com uma família um pouco desajustada, com pais que mais se suportam do que de fato se amam, e com um aproveitador e valentão, Biff Tannen (Thomas F. Wilson), explorando continuamente George Mcfly, seu pai, um covarde de carteirinha desde a época em que ambos eram apenas adolescentes.
Marty é o melhor amigo do Doutor Emmet Brown, um cientista caricato e extremamente divertido, interpretado com maestria por Christopher Loyd, e que finalmente consegue inventar algo que funciona, uma máquina do tempo construída em um Delorean, um carro da moda dos anos 80.
Mas no teste inicial da máquina o Dr. Brown, ou Doc, como é chamado por Marty, acaba sendo emboscado e morto por terroristas de quem tinha conseguido o plutônio necessário para fazer sua invenção funcionar, e para fugir de também ser assassinado o jovem Marty acaba entrando no Delorean e viajando acidentalmente para 1955, o ano em que seus pais se conheceram.
Desesperado para voltar para casa ele vai pedir a ajuda da versão mais jovem do Doutor Brown, igualmente maluco como seu eu mais velho, mas no caminho acaba piorando a situação quando sem querer interfere no primeiro encontro dos pais, fazendo com que a versão mais jovem de sua mãe acabe se sentindo atraída por ele, o que acarretará na sua própria inexistência, já que sem que seu pai e sua mãe se casem, ele jamais nascerá.
Com a ajuda do Dr. Brown, Marty tem não apenas que voltar para casa, mas antes disso, reaproximar os pais, o que faz com que acabe fazendo amizade com a versão mais jovem de seu genitor, George Mcfly, um adolescente tímido e inseguro, alvo de perseguições e bullying por parte de seus colegas, especialmente do valentão Biff, que o maltrata constantemente.
Marty então passa a encorajar o pai, que descobre ser um exímio escritor de ficção científica, o que acarreta numa das mais divertidas cenas do filme, em que se faz passar por Darth Vader do planeta Volcano para convencer George a convidar Lorraine, a versão jovem de sua mãe, para o baile do colégio, acabando por brincar com duas das maiores franquias da história, Star Wars (Darth Vader é um dos personagens principais da trama, da qual esse que vos fala é um fã louco e alucinado), e Star Trek (Volcano é na verdade o planeta natal de Dr. Spock, um dos maiores personagens daquela história).
Encorajado pelo garoto, George acaba não apenas convidando Lorraine para o baile, mas também enfrentando o valentão Biff, e lhe dando uma lição que mudará para sempre (e para melhor) o futuro da família Mcfly.  
Depois de várias peripécias, que envolvem também a tentativa do jovem Marty de contar ao Dr. Brown que ele será assassinado no dia da viagem no tempo, a divertida dupla acaba conseguindo ter sucesso. Os pais do garoto se apaixonam e ele volta para o futuro, onde constata não apenas que conseguiu salvar o velho Doc Brown, mas também que mudou consideravelmente a vida de sua família, e para muito melhor.
De Volta Para o Futuro é um filme que jamais envelhece, e que sempre nos leva a uma viagem pelo tempo, especialmente para aqueles que foram contemporâneos da época de seu lançamento, ou das constantes reprises apresentadas na sessão da tarde dos anos 80 e 90, nos fazendo voltar a um passado onde as coisas eram mais simples, e fantasiávamos com um futuro cheio de carros voadores e invenções inovadoras.
Uma viagem que vale à pena ser feita, e muito.

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O Exterminador do Futuro

Mas como assim? O que tem a ver O Exterminador do Futuro com as mamães? Digo daqui a pouco.
Lançado em 1984, dirigido por James Cameron e estrelado por um jovem e iniciante ator conhecido como Arnold Schwarzenegger, O Exterminador do Futuro (Terminator) narra a história de uma jovem garçonete, Sarah Connor (Linda Hamilton) que repentinamente vê-se envolvida em uma perseguição alucinante que envolve um ciborgue vindo do futuro (o bom e velho Schwarzenegger) e um soldado que combate a máquina e que também vem da mesma época que ela, Kyle Reese (Michael Biehn).
O detalhe? O exterminador, vindo do futuro, do ano de 2029, está caçando Sarah Connor, ao passo que Reese é enviado da mesma época para defendê-la, e tudo isso por que? Porque ela será mamãe! No decorrer do filme Sarah é informada que dará à luz a um herói (apesar de ainda não estar grávida), John Connor, que no futuro liderará a resistência em direção à salvação da humanidade, depois de uma hecatombe atômica que dizimará quase que inteiramente os humanos da face da terra, e tudo em virtude da ação de uma inteligência artificial conhecida como Skynet, que causará uma guerra nuclear que erradicará a maior parte da raça humana.
Prestes a perder a guerra para a humanidade, em uma última manobra desesperada a Skynet envia um de seus ciborgues ao passado, ao ano de 1984, com o objetivo de matar Sarah Connor e evitar que John Connor, o líder que levará a humanidade à vitória, venha a nascer.
O filme é um marco na história da ficção científica, lançando não apenas Arnold Schwarzenegger ao estrelato, mas também o ainda iniciante diretor James Cameron, que viria a quebrar recordes de bilheteria no cinema escrevendo e dirigindo películas como Titanic e Avatar.
A surpresa é que descobrimos que o pai de John Connor é Kyle Reese, soldado e amigo do herói, que é mandado ao passado pelo próprio John para proteger a mãe, ou seja, na linha do tempo o filho é mais novo que o pai, e quando este foi concebido, àquele sequer havia nascido. Confuso, não? Mas não tira em nada o brilho da história, que teve uma continuação excepcional, e que deveria ter parado por aí. (Alguém volte ao passado e impeça que depois de O Exterminador do Futuro 2 outras continuações sejam feitas).
Mas e o que tem a ver esse filme com as mamães? Tudo, ora bolas! Foi Sarah Connor que com sua força, coragem, amor e persistência educou e criou o filho para tornar-se o líder que salvaria a humanidade no futuro, chegando a ensinar-lhes táticas de guerra e de combate, fato que é constantemente lembrado em todos os filmes, em franco reconhecimento ao amor e resistência dessa mãezona, que é inclusive o alvo na história original, afinal, sem Sarah, não teria John.
O Exterminador do Futuro é um filmaço, que conta com frases icônicas como “I´ll be Back” e “Hasta la Vista, Baby”, eternizadas por Arnold Schwarzenegger, mas que também apresenta uma personagem que retrata bem a força, a coragem, a persistência, e acima de qualquer outra coisa, o amor que uma mãe sente pelo filho.
Assistam com suas mamães.

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Yesterday

Que The Beatles é um das bandas mais conhecidas de todos os tempos, com músicas que marcaram, marcam e provavelmente continuarão a marcar gerações, isso ninguém duvida. Agora você, fã dos Beatles, que curte demasiadamente a música dos rapazes de Liverpool, já imaginou acordar um dia e descobrir que o conjunto nunca existiu?
Que Paul, John, Ringo e George nunca se reuniram para gravar os sucessos inesquecíveis e mundialmente famosos? Imagine um mundo onde os Beatles nunca existiram. Conseguiu? Não? Então assista a Yesterday, filme de 2019 que retrata a história de Jack Malik (interpretado por Himesh Patel), um músico britânico que não consegue decolar na carreira, e que chega a pensar em desistir de seguir como cantor, até que passa por uma reviravolta em sua vida.
Um dia Jack sofre um acidente, e quando acorda no hospital tudo parece o mesmo. Seus amigos, sua família, seus colegas, tudo, menos um fato singular. Ninguém se lembra dos Beatles, exceto ele. Jack então passa a investigar a curiosidade, e surpreende-se quando vê que os rapazes de Liverpool nunca se reuniram, e consequentemente nunca fizeram sucesso.
Mas o curioso é que, apesar de nunca terem existido naquela nova realidade, ainda assim Jack lembra de quase todas as músicas do quarteto, e quando começa a tocá-las acaba deixando todos admirados com a beleza e imponência das canções. O jovem então é descoberto por ninguém menos que Ed Sheeran, que faz uma participação especial no filme, e acaba sendo alçado ao estrelato, sendo considerado um dos maiores compositores de todos os tempos.
Mas Jack passa a viver uma crise de consciência por carregar a mentira de ser o autor daquelas músicas, fato que somado à crise com Ellie, sua amiga de longa data e par romântico, acaba por atrapalhar a vida do rapaz, que terá de escolher entre a fama e a verdade.
O filme faz uma singela e cativante homenagem aos Beatles, contando um pouco da história da banda e do que inspirou a composição de alguns de seus maiores sucessos. Além disso, apresenta uma grata surpresa ao público, com uma cena emocionante de um encontro bastante inusitado, que não falarei qual é para não dar spoiler.
Yesterday, batizado com o nome de um dos maiores sucessos dos Beatles, é um filme inocente e emocionante, embalado pela trilha dos rapazes de Liverpool, que dentro de seu enredo acaba por destacar a importância e a genialidade daqueles garotos que um dia resolveram se juntar para mudar a história da música.
Não deixe de assistir.

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Chernobyl

O dia 26 de abril de 1986 marca um evento trágico na história da humanidade, o acidente com um reator na usina nuclear de Chernobyl, na cidade de Pripyat, Ucrânia, que ocasionou uma devastação sem precedentes, e tudo em decorrência de uma sucessão de irresponsabilidades do governo soviético, que tentou ocultar do mundo a ocorrência do desastre.
É justamente este evento trágico e todas as suas causas que são abordados na série “Chernobyl”, produzida pelo canal HBO, baseada no livro “Vozes De Tchernóbil”, da autora Svetlana Alexijevich, que conta com relatos de pessoas que vivenciaram aquela tragédia.
Com apenas uma temporada composta por cinco episódios, a série narra com uma fidelidade digna de nota toda a cadeia de acontecimentos que culminou com o acidente devastador, reproduzindo de forma fidedigna não apenas o cenário, mas também os relatos de que vivenciou de perto todo o ocorrido.
E foi justamente essa fidelidade que causou polêmica entre as autoridades russas, especialmente nos pontos que destacam a completa irresponsabilidade e desrespeito com a vida demonstrados pela extinta União Soviética, que tentou ocultar do mundo o que acontecera, insistência que ainda é mantida pelo governo russo, que até hoje não revela de forma transparente o verdadeiro número de pessoas que morreram em virtude do desastre, seja na explosão, seja em decorrência da radiação emitida com o vazamento do reator, que ficou exposto após o acidente.
A série leva a uma reflexão profunda e apresenta cenas fortes, especialmente as que mostram a morte lenta e dolorosa de pessoas afetadas pela radiação, a exemplo de Vasily Ignatenko, um dos primeiros bombeiros a chegar no local logo após a explosão, que recebeu uma dose massacrante de radiação, fazendo com que agonizasse por dias até falecer em decorrência da exposição sofrida.
Outro papel de destaque é o de Valery Alekseyevich Legasov, cientista russo que foi membro da comissão designada para investigar o desastre. Legasov cometeu suicídio quase dois anos após a tragédia, deixando, no entanto, várias fitas gravadas onde revelava a pressão sofrida por parte do governo soviético para ocultar os erros crassos que ocasionaram o desastre, bem como todos os equívocos que levaram ao acidente que entrou para a história como o pior desastre nuclear já ocorrido.
Após o acidente a cidade foi evacuada, e hoje é um cemitério de corpos e lembranças, de histórias que foram despedaçadas pela irresponsabilidade de governantes, de prédios abandonados e em ruínas, e da usina onde tudo ocorreu, cujo reator encontra-se coberto por um enorme caixão de aço e concreto construído para conter a radiação, que ainda emana de lá a níveis assustadores.
Pripyat, local onde está situada a usina de Chernobyl, se tornou um destino turístico onde pessoas podem visitar determinados lugares da cidade fantasma, mas que ali permanecem por apenas alguns minutos, em virtude dos altíssimos níveis da radiação que ainda se espalha por toda a localidade, e que segundo especialistas, permanecerá ainda por milhares de anos
Chernobyl é uma série completa, fidedigna e com uma direção e atuações que merecem aplausos, mas muito além disso, é um relato de inegável relevância, uma oportunidade de visitar o passado e aprender com os erros, e de homenagear as vítimas e as pessoas que deram suas vidas para que aquela tragédia não fosse ainda maior.

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O Retorno do Cavaleiro das Trevas

Publicado em 1986 em quatro edições, o Retorno do Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight Returns), uma das mais influentes obras de Frank Miller, mudou a forma como o mundo via os quadrinhos.
A trama narra a história de um Bruce Wayne mais velho e atormentado, que retoma o manto do morcego aos cinquenta e cinco anos, dez anos após uma aposentadoria ocasionada pela morte traumatizante do segundo Robin, Jason Todd.
Em uma Gotham City cada vez mais caótica, dominada por uma gangue violenta nominada de “Mutantes”, onde o Comissário Gordon está prestes a se aposentar, Bruce sente a necessidade repentina de retomar o posto que deixou de lado dez anos antes, e acaba trazendo de volta o Homem Morcego.
Um detalhe especial é que a obra apresenta pela primeira vez uma Robin, a garota Carrie Kelley, que entusiasmada com a volta de seu maior herói resolve segui-lo com uma fantasia de Robin, e acaba sendo acolhida e treinada por Bruce Wayne.
O problema é que quando volta à ativa, Batman se depara com uma lei federal que proíbe nos EUA a ação de super-heróis, e constrange não apenas as autoridades de Gotham, mas o próprio Presidente americano, que vê-se humilhado diante da persistência do Cavaleiro das Trevas. Aliada a isso, está a forma cada vez mais brutal e violenta com a qual Wayne passa a agir, o que acaba gerando um debate social sobre a necessidade de existência de vigilantes para proporcionar segurança à população quando o governo não é capaz de fazê-lo (conseguem encontrar alguma semelhança com  o que vivemos na atualidade?).
Com o ressurgimento do Homem Morcego, dois de seus maiores inimigos também voltam à ativa, Harvey Dent, o Duas-Caras, que mesmo depois de ter o rosto restaurado por exitosas cirurgias plásticas e de receber alta de seu psiquiatra volta a cometer crimes, acreditando piamente que ainda é o antigo vilão que outrora aterrorizou Gotham. E o pior de todos eles, o Coringa.
Preso no Asilo Arkham e catatônico desde que Batman se aposentadora, ao saber da volta do Cavaleiro das Trevas o Coringa acorda de seu estado de catatonia, também recebe alta de seu psiquiatra (que em inúmeras entrevistas trata o Homem Morcego como o verdadeiro louco) e sai pelas ruas de Gotham, voltando a cometer crimes, mas de forma ainda mais brutal e ensandecida do que fizera antes, chegando ao ponto de matar seu médico e toda a plateia de um programa de entrevistas, e tudo ao vivo (o que inspirou em parte a inesquecível cena do recém-lançado filme “Coringa”).
O confronto final de Batman com seu arqui-inimigo é algo que merece destaque nessa obra, pela violência que rodeia a batalha, com o palhaço louco do crime a todo momento tentando levar o Homem Morcego ao extremo de sua sanidade, para que viole a única regra que seu código de honra não permite que quebre de forma alguma, a de não matar.
O conflito termina com o Coringa morto, mas não pelas mãos do Batman, que mesmo levado ao extremo consegue respeitar suas próprias regras.
Bruce então se depara com o segundo conflito, e essa sim a maior luta desta obra, a batalha contra o Superman. Em virtude da Lei Federal vigente nos EUA, todos os heróis são proibidos de agir, com a exceção do Homem de Aço, que torna-se um agente a serviço do Presidente dos Estados Unidos.
Diante da insistência de Wayne em desrespeitar essa Lei, o Presidente ativa o Superman para que acabe de uma vez com o Batman, e Clark Kent sai em busca de seu antigo amigo e companheiro de equipe, tentando demovê-lo de seu intento. Bruce se nega, obrigando o Homem de Aço a confronta-lo em uma das batalhas mais épicas da história dos quadrinhos.
Usando de seu maior artifício, a inteligência, Bruce constrói uma armadura para lutar contra o Superman, e fazendo uso de cargas de Kriptonita (com uma ajuda especial de Oliver Queen, o arqueiro verde, que nessa história surge também idoso e com um braço amputado) ele enfrenta o Homem de Aço, aplicando-lhe uma surra histórica.
Essa luta inclusive foi utilizada como inspiração para o confronto de heróis no filme “Batman x Superman, A Origem da Justiça”, mas possui um desfecho totalmente diferente nos quadrinhos.
O Retorno do Cavaleiro das Trevas é uma das melhores histórias em quadrinhos já criadas, que mudou a forma como o mundo via essa forma de arte, assim como via o universo dos super-heróis, apresentando a partir daí um Batman cada vez mais violento, obsessivo e sombrio, esta sim, a verdadeira natureza do Homem Morcego.
Uma história excelente, marcante e que vale a pena ser lida inúmeras vezes.

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A Paixão

Lançado em 2004 e dirigido por Mel Gibson, A Paixão (Passion), aborda as últimas horas do sofrimento de Cristo até sua crucificação. À época de seu lançamento o filme acumulou muitas críticas positivas e outras negativas, justificadas pelo que muitos declaravam como um excesso de violência, o que fez com que pessoas deixando as salas de cinema ou até mesmo passando mal se tornasse uma cena constante pelo mundo.
Na opinião deste que vos escreve o filme é fiel do início ao fim, e se há algum exagero é na recepção negativa dada por alguns. O suplício de Cristo em sua via crucis é até hoje lembrado para que possamos ver o tamanho do preço pago por Ele para a salvação de nossas almas, e neste contexto Mel Gibson foi genial ao saber mesclar as cenas que retrataram a violência sofrida por Jesus com as que mostravam a beleza e a pureza de seus ensinamentos.
Gibson buscou alcançar uma fidelidade tal com a história que os atores tiveram de aprender latim (idioma falado pelos romanos) e aramaico, que era o idioma falado por Cristo, além de ter alcançado uma sensibilidade com a história que levou às lágrimas os espectadores pelo mundo inteiro. Junto a isso podemos ver atuações marcantes, como a de Jim Caviezel no papel de Jesus e Maia Morgenstern no papel de Maria.
A Paixão choca sim, e de fato devemos ficar chocados com o sofrimento e a agonia pelas quais Jesus passou, para que possamos ter uma noção, ainda que remota, do tamanho de seu sacrifício, mas o filme também toca no âmago, emociona e leva às lágrimas, marcando em nosso coração não apenas a dor, mas principalmente o amor sentido por aquele que deu sua vida por nós todos. Um amor puro, sem interesse, cristalino. Um amor Divino.
A Paixão é um dos melhores filmes já feitos, e deve ser assistido não apenas nessa época, mas a todo o tempo, para que jamais possamos esquecer o que DEUS fez por nós, e o sacrifício feito por Jesus para nos redimir de nossos pecados.
Se ainda não viu, dê o play. Vale muito à pena.

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Moby Dick

Da autoria do escritor Herman Melville, e Publicado em 1851, Moby Dick narra a aventura vivida pelo marinheiro Ishmael a bordo do navio Pequod, comandado pelo peculiar Capitão Ahab, na busca de uma temida e monstruosa baleia branca.
Com a intenção de embarcar em um baleeiro para caçar cachalotes (os maiores cetáceos, ou baleias existentes no mundo, que podem chegar a até vinte metros de comprimento), o jovem e inexperiente Ishmael passa a integrar a tripulação do Pequod, um estranho barco comandado pelo igualmente estranho Capitão Ahab.
Acreditando piamente que a viagem tem como intuito apenas a caça de tais animais, cujo óleo fabricado a partir de uma substância recolhida de seus corpos era bastante valorizado, Ishmael é surpreendido ao descobrir as verdadeiras intenções do Capitão, caçar e matar Moby Dick, a monstruosa e descomunal baleia branca que arrancara fora sua perna em um conflito anterior travado entre o humano e o cetáceo, fazendo com que passasse a usar uma prótese de marfim.
Avançando pelos mares, e invariavelmente caçando tais animais (a morte e exploração dos corpos é descrita de forma pormenorizada na obra), Ishmael passa a conviver e aprender com os demais tripulantes, especialmente com o arpoador Queequeg e com o primeiro imediato Starbuck, que trava diversos conflitos com o Capitão durante a viagem.
Além dos momentos de emoção decorrentes da caça às baleias e do avanço pelos mares, o ápice do livro é a localização e perseguição desenfreada a Moby Dick, fazendo com que os marinheiros travem uma violenta e sanguinária luta com o animal, comandada pelo obcecado Capitão Ahab, que tenta a todo custo acabar com o temível cachalote.
Narrando com detalhes os hábitos dos marinheiros e caçadores de baleias da época, Moby Dick sofreu a influência de suas histórias reais ocorridas envolvendo a caça àqueles cetáceos. A primeira delas é a que narra a real existência de um cachalote branco que habitava nas proximidades da ilha de Mocha, na costa do Chile, famoso por seu tamanho descomunal, sua agressividade quando atacado, e sua inteligência para conseguir fugir às investidas dos baleeiros.
A baleia passou a ser conhecida como Mocha Dick, influenciando diretamente na história de Melville. Esse cachalote acabou sendo morto em 1838, descobrindo-se então que possuía 21 metros de comprimento.
O segundo relato aborda o naufrágio do baleeiro Essex, que teria sido afundado em 1820 por um enorme cachalote de vinte metros de comprimento, fazendo com que os sobreviventes ficassem por meses à deriva no mar, tendo inclusive que praticar canibalismo comendo os corpos dos companheiros que morriam conforme o tempo passava. Apenas oito homens da tripulação daquele barco foram resgatados com vida.
Ao ouvir a história, Melville encontrou-se com o Capitão do Essex, que lhe narrou todo o ocorrido, inspirando a célebre obra “Moby Dick”, um livro emocionante e envolvente que, indiscutivelmente, vale a pena ser lido.

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Musashi

Musashi é uma obra que retrata a vida e trajetória de Myamoto Musashi, um dos maiores espadachins e filósofos que já passaram pelo mundo.
Escrita por Eiji Yoshikawa, a história deste samurai foi romantizada, transformando-se num dos melhores livros já escritos. Musashi saiu cedo de casa, primeiramente numa jornada em busca da perfeição marcial, através do aprendizado de técnicas de combate. Desenvolveu como ninguém o uso da espada de madeira e é o criador do estilo de luta com duas espadas. Combateu em mais de sessenta lutas e venceu todas, tornando-se um dos principais expoentes do Bushido, O Caminho do Guerreiro.
A princípio, era um Ronin, termo japonês cujo significado é levado pelas ondas, palavra utilizada para designar os samurais que não serviam a um Daymio, ou senhor.
Com o tempo, Musashi percebe que o combate não é tudo, e passa a aperfeiçoar o lado espiritual. Escreveu diversos manuscritos, sendo o mais famoso "O livro dos cinco anéis".
O compêndio retrata essa jornada, acrescentando diversos outros elementos que tornam esta obra encantadora, alcançando o ápice no momento do duelo final entre Musashi e seu principal adversário, o samurai Sasaki Khojiro.
A princípio, quem não possui o hábito de ler pode se assustar com o tamanho da história, já que são dois tomos, o volume I com 921 páginas, e o volume II com 1808. Mas a partir da segunda página o leitor é envolvido pela narrativa, e a partir daí o difícil é interromper a leitura.
Uma história para ser apreciada, propiciando a quem a acompanha a oportunidade de levar para a vida vários ensinamentos deste filósofo e espadachim que tanto acrescentou às artes de pensar e de lutar durante sua trajetória.

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Jornada de Esperança

Escrito por Brian Aldiss e publicado em 1964, “Jornada de Esperança” aborda uma história que se passa em um futuro distópico, onde testes atômicos realizados no espaço na década de 80 acabam por ocasionar a esterilização da humanidade, que passa a envelhecer sem novos nascimentos e sem perspectiva de perpetuação da espécie.
Em meio a um mundo idoso, onde os governos desmoronam e uma nova ordem mundial se estabelece, nós passamos a acompanhar a história de Barbagris e Marta, um casal já em idade avançada que tenta sobreviver e continuar buscando uma vida melhor em meio a um futuro sem muita perspectiva, onde células governamentais tomam o poder em lugares onde antes existiam grandes centros, e que agora dividem espaço com a natureza que volta a dominar, seja por meio da disseminação da flora, seja por meio dos animais que voltam a espalhar-se livremente conforme a espécie humana é reduzida, fazendo com que prevaleça entre os sobreviventes a lei do mais forte.
Em meio a tudo isso, circundam boatos de novos nascimentos de crianças, que acendem novamente a esperança de uma continuidade para a espécie humana.
A História é cadenciada, proporcionando poucos momentos de ação ou fortes emoções, como costumeiramente vemos em gêneros deste tipo, mas compensa a ausência destes recursos com a deixa para que pensemos a respeito de nosso lugar nesse mundo, bem como sobre a forma como tratamos o planeta e a nossa própria espécie.
Um livro para fazer pensar, especialmente em nossas ações e em nosso futuro.

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Mulher-Maravilha

E como não falar dela quando a intenção é homenagear a mulher? Afinal, todas vocês são mulheres maravilha.
Criada em 1941 pelo psicólogo e escritor William Moulton Marston em conjunto com sua esposa, a advogada Elizabeth Marston, e desenhada por Harry George Peter, a Mulher-Maravilha conquistou um espaço em um ambiente que era quase que inteiramente dominado por caracteres masculinos, se tornando uma das personagens mais icônicas da história.
Falando de sua criação, William Marston escreveu que “a Mulher-Maravilha é a propaganda psicológica para o novo tipo de mulher que, creio eu, deve governar o mundo”. Ou seja, já sabia ele, naquela época, que o mundo é de vocês, mulheres.
A Mulher-Maravilha, ou Diana Prince, ou Princesa Diana de Themyscira é filha de Hipólita, Rainha das amazonas da paradisíaca e oculta ilha de Themyscira.
Dona de poderes sobre-humanos, e armada com seus braceletes e seu laço da verdade, Diana é enviada já adulta ao mundo comum como Mulher-Maravilha, com o intuito de propagar a paz, tornando-se uma defensora da humanidade e expoente na luta pela verdade e pela justiça.
O filme homônimo, lançado em 2017, traz Gal Gadot, uma jovem e carismática atriz israelense no papel da heroína em uma história bem parecida com a dos quadrinhos, com a diferença de que Diana é jogada em um mundo em conflito, quando a Primeira Guerra Mundial está sendo travada.
Diana então depara-se com um mundo sem sentido e violento, espantando-se também ao perceber que as mulheres são relegadas a segundo plano em uma sociedade onde o machismo imperava muito mais forte do que nos dias atuais, passando então a lutar não para manter a guerra, mas para acabar com o conflito e com os males causados pela violência bestial vista pelo mundo naquele combate sem sentido.
O filme, assim como os quadrinhos na década de 40, abriu espaço para que outras heroínas tivessem o seu lugar em um mercado onde a maioria das películas abordava histórias de personagens masculinos, com algumas poucas exceções, e foi um sucesso de público e de crítica, graças à própria história da personagem, à direção da excelente Patty Jenkins, e à atuação impecável de Gal Gadot, que com seu carisma soube captar a força, a nobreza e a altivez de tão importante personagem.
Excelente filme, que além de divertir com uma boa história envolvendo ação e romance, aborda temas atuais, como o machismo que ainda hoje impera em nossa sociedade, e a busca nobre e justa da mulher por seu espaço em um mundo eminentemente dominado pelos homens.
Definitivamente, uma maravilha.

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Crise nas Infinitas Terras

A seção sobre impressões pessoais acerca de livros e filmes com os quais tive a oportunidade de enriquecer meu conhecimento não poderia deixar de lado essa nova e ao mesmo tempo tão antiga expressão artística, qual seja, a nona arte, mais conhecida como quadrinhos.
Para muitos reconhecida como uma variação da arte rupestre, que é uma das mais antigas formas de comunicação do ser humano, os quadrinhos evoluíram para uma manifestação artística que atende aos anseios de pessoas de todas as idades, sejam crianças, adolescentes, adultos ou idosos, não havendo faixa etária para o consumo deste meio tão popular de contar histórias.
Neste contexto, falarei hoje de uma das mais importantes histórias já criadas nesse meio, uma obra que marcou época e que encontra-se no rol das mais relevantes já feitas, “Crise nas Infinitas Terras” (Crisis on Infinite Earths).
A saga, publicada em doze edições no ano de 1986, tinha como intuito colocar ordem na bagunça que tinha se tornado a DC Comics, editora que publica títulos de nada mais, nada menos que Batman, Superman, Mulher-Maravilha, Lanterna Verde e cia. Com o passar dos anos, a DC tinha adquirido diversos selos de outras editoras, levando consigo vários personagens, chegando a um ponto em que o elenco de super-heróis tinha se tornado uma verdadeira Torre de Babel de superseres.
Para se ter uma ideia da complicação em que tinham se transformado as publicações, em dado momento eram publicadas sagas que mostravam ao mesmo tempo, por exemplo, um Super-homem já velho, um Super-homem em idade adulta, e um Superboy, fato que acontecia também com outros personagens (no fim do texto verão porque utilizei especificamente o exemplo do Homem de Aço).
No intuito de pôr fim àquela confusão toda, que tinha passado a dar um nó na cabeça dos fãs em uma época em que não havia acesso à internet e a informações mais apuradas, o que chegara a causar problemas nas vendas da própria editora, a DC resolveu apostar na ideia de dois jovens, o artista George Pérez e o escritor Marv Wolfman.
Wolfman teve uma ideia que remontava a uma história datada de 1961, em que o Flash Barry Allen encontrava o Flash da Era de Ouro dos Quadrinhos, Jay Garrick, este uma versão mais velha do anterior. A história apresentava pela primeira vez a noção de multiverso nos quadrinhos, onde Allen vivia na Terra-1 e Garrick na Terra-2.
Apenas a título de explicação, o multiverso seria a ideia de que não existe um único universo a nos rodear, mas infinitas versões dele, ou seja, mundos entre mundos, em que, por exemplo, você leitor, teria infinitas versões de você mesmo vivendo em existências paralelas. Uma viagem não é? E que viagem sensacional!
Voltando ao tema, Wolfman teve a ideia de reunir todos os personagens que a DC possuía, colocando-os em terras paralelas, o que justificaria a existência, por exemplo, de um Superman velho, um Superman adulto e um Superboy vivendo ao mesmo tempo, ou seja, cada um vivia em um mundo alternativo, com suas próprias origens e histórias diferentes.
Feitas as apresentações, a história narrava os planos de um vilão nascido no início da existência de todos os universos, o Antimonitor, que fora criado a partir da antimatéria. Os planos deste personagem envolviam a completa aniquilação de todos os universos existentes, e para isso ele criara uma nuvem de antimatéria que passara a devorar e obliterar tudo o que existia.
De outro lado, tínhamos a versão boa do AntiMonitor, o Monitor, que também nascera na origem de tudo, e que aparecera em publicações anteriores dos Novos Titãs. Ajudado por sua auxiliar, a Precursora, conhecida também como Lyla Michaels, ele passa a recrutar os maiores heróis de todas as terras que ainda não tinham sido apagadas da existência pela nuvem de antimatéria.
A partir daí o que vemos é uma sequência de eventos espetaculares, marcantes e inesquecíveis, em que mundos e personagens icônicos acabam morrendo, merecendo destaque especial dois sacrifícios que marcaram para sempre a história dos quadrinhos e arrancaram lágrimas de muito marmanjo de coração duro, a morte de Barry Allen, e de Kara Zor-el, a popular Supergirl.
Barry Allen, o corredor escarlate, ou como muitos o conhecem, Flash, sacrifica a própria vida em uma morte dolorosa e aterradora que acontece no anonimato, mas que acaba impedindo a destruição do universo, o que fez com que muitos fãs de quadrinhos praticamente canonizassem o personagem, que passou a ser lembrado com saudosismo e extremo respeito por figuras marcantes como o Homem de Aço e o Cavaleiro das Trevas.
A morte de Kara também mexe com os brios dos leitores. A Supergirl se sacrifica para salvar a vida de Kal-el, seu primo, o bom e velho Superman, que fica devastado com o ocorrido, mas que consegue honrar a memória da prima lutando até o fim para fazer jus ao seu sacrifício e salvar o multiverso.
No decorrer da história o Monitor também se sacrifica, e no fim o Antimonitor é derrotado, causando um evento que reúne todas as terras restantes em uma só, fazendo com que personagens que viviam em infinitos universos passem a habitar apenas um.
Mas com a morte de outros mundos, alguns personagens que ainda guardavam memórias de sua existência anterior, como o velho Superman e o Superboy, acabaram perdendo família e amigos, sendo obrigados a partir da terra para viver em uma outra dimensão, o que futuramente acabou desencadeando os eventos de outra história fantástica lançada pela DC, a Crise Infinita, onde o maior vilão é nada menos que, o Superboy, que cresce, enlouquece e se transforma no Superman Prime, causando verdadeiros desastres com sua força descomunal e chegando ao ponto de conseguir quebrar as barreiras da realidade (esse foi o motivo pelo qual resolvei citar o Homem de Aço como exemplo).
Crise nas Infinitas Terras tornou-se um marco do gênero, e até hoje é lembrada como uma das maiores, se não a maior, história de quadrinhos já criada, e acabou por resolver o problema pelo qual a DC Comics passava na época, visto que pôs ordem na bagunça a arrumou a casa.
Uma história que vale a pena ser lida... em todos os universos.

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Macunaíma O herói sem nenhum caráter

Um dos melhores, e com certeza o livro mais diferenciado que já tive a oportunidade de ler. Escrito em 1928 por Mario de Andrade, Macunaíma narra a história do herói homônimo, um índio nascido em uma pequena aldeia, que desde tenra idade aprontava várias peripécias, tais como importunar as mulheres da aldeia até “brincar” com a esposa de um dos irmãos, fazendo uso desde cedo daquele que seria seu principal bordão, “Ai, que preguiça!”.
Nesse contexto, o termo “brincar” é utilizado pelo autor para referir-se a atividades que envolvam uma intimidade maior entre os personagens, e Macunaíma “brinca” bastante no decorrer da história.
Com o tempo o herói deixa sua aldeia na companhia de seus dois irmãos, Jiguê e Maanape, que segundo o autor, tinha fama de feiticeiro. Apesar de tudo o que Macunaíma apronta em suas aventuras, os irmãos vivem a segui-lo, e lhe são fiéis em todos os momentos, sobrando espaço para um ou outro contra-ataque fraterno a fim de dar o troco no personagem principal por alguma travessura que ele tenha feito.
No decorrer da trama, Macunaíma sai em busca da Muiraquitã, uma pedra mágica que recebera de Ci, seu grande amor, e que acabou na posse do gigante Piaimã, ou Venceslau Pietro Pietra, um gigante comedor de gente que na obra vive como Burguês na cidade de São Paulo.
O mais interessante da livro é como o autor ignora os limites geográficos em sua narrativa e joga o personagem em viagens impressionantes em todo o território nacional, mostrando a diversidade cultural de nosso país. Merece também destaque o fato de que Macunaíma é realmente um herói sem nenhum caráter, aprontando diversas peripécias e saindo-se bem de quase todas elas, mas não deixando de receber castigos ou represálias em alguns momentos.
O livro também nos mostra a diversidade do folclore brasileiro e de todas as figuras que permeiam tais histórias, sendo uma verdadeira aula sobre os elementos culturais ricos e variados de nosso país. A linguagem utilizada pelo autor também é informal (à exceção de uma carta escrita por Macunaíma para suas súditas) e divertida, de uma criatividade ímpar, emocionando em alguns pontos e arrancando risadas em vários outros.
De longe uma obra-prima e um dos melhores livros que já li, e que deveria ser leitura obrigatória para todo brasileiro.

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A Bailarina de Auschwitz

Sempre indico livros, filmes, documentários e qualquer outro material que ajude a esclarecer a realidade da Segunda grande guerra, especialmente quando envolve os horrores causados pelos nazistas e por aquela aberração da natureza conhecida como Adolf Hitler. Por mais dolorosas que essas histórias sejam, elas têm um propósito de importância imensurável, o de não deixar que esqueçamos as atrocidades que foram cometidas naquela época.
Nesse ponto, “A Bailarina de Auschwitz” deixa sua marca, mas proporciona um ensinamento ainda maior, com o qual nos presenteia a autora dessa obra. Um ensinamento de cura.
Escrito por Edith Eva Eger, esse livro nos apresenta a história da própria autora, nascida na Eslováquia e levada ainda adolescente, junto com os pais e as irmãs para Auschwitz-Birkenau, o maior campo de concentração e de extermínio construído pelos nazistas durante a segunda guerra mundial.
Aprisionada por ser judia, a jovem Edith, que à época já era bailarina e ginasta, viu a mãe ser levada para as câmaras de gás, perdeu o pai e sobreviveu aos inúmeros horrores que viveu no campo com uma de suas irmãs, Magda. No barracão em que ficou aprisionada em Auschwitz, Edith chegou a conhecer e foi obrigada a dançar para ninguém menos que Joseph Mengele, o conhecido “Anjo da Morte”, um médico que até hoje é lembrado como um dos maiores carniceiros e homicidas que o mundo já teve o desprazer de abrigar, responsável pela realização de experimentos em humanos cuja mera menção já é capaz de causar náuseas.
Para quem não sabe, Mengele conseguiu fugir da Alemanha após a queda de Hitler, fazendo uso da famosa “Rota dos Ratos”, e acabou refugiando-se no Brasil, onde morreu em 1979. Até hoje os ossos do famigerado “Anjo da Morte” encontram-se no Instituto Médico Legal de São Paulo, e são utilizados em aulas de medicina Forense.
Mas para além da perda dos pais, das dores físicas e psicológicas sofridas (Edith chegou a fraturar a coluna no campo de concentração) e de todos os traumas aos quais foi exposta, a autora superou gradativamente cada um deles, mudando-se com marido e filhos para os EUA, onde cursou faculdade de psicologia e especializou-se nesse campo profissional, tornando-se uma renomada e mundialmente conhecida psicóloga, que passou a contar sua história de cura e superação para ajudar as pessoas que necessitavam encontrar esse mesmo caminho.
Atualmente Edith Eva Eger está com noventa e dois anos, e ainda dança balé e ajuda as pessoas a superarem seus traumas, tendo espaço para escrever esse livro e nos brindar com uma história emocionante de superação, de cura e de perdão, motivo pelo qual essa obra torna-se uma leitura essencial para não esqueçamos jamais as atrocidades cometidas naquela triste época, mas acima disso, para que não esqueçamos o valor da vida, e de que é imprescindível ser feliz e seguir em frente.

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As Mil e Uma Noites

Se você está em busca de doses extensas de emoção, aventura, romance e fantasia, esse é o livro certo. “As Mil e Uma Noites” é um clássico da literatura universal, compilando diversas histórias e contos da cultura oriental, narrativas emocionantes e cheias de mágica, que despertam sentimentos nostálgicos que apenas as mais antigas lendas são capazes de trazer.
A narrativa começa quando o Rei da Pérsia, Xariar, descobre a infidelidade de sua esposa, que o traía com um de seus escravos. Revoltado, o rei mata a esposa e o escravo e decide que dali em diante dormirá com uma mulher diferente toda noite, matando a escolhida no dia seguinte para evitar uma nova traição.
Tempos depois, e após a morte de muitas moças inocentes, a filha do Vizir do reino, uma moça chamada Xerazade, pede ao pai para ser entregue como noiva do rei, e assim que alcança seu objetivo, pede à sua irmã, Duniazade, que tão logo consiga entrar no palácio, peça a ela que lhe conte uma história, e assim acontece.
Mas depois de iniciar a primeira história, Xerazade a interrompe, afirmando que dará continuidade a ela apenas no dia seguinte. Encantado com a forma com que a moça narra seus contos, e tomado de curiosidade por saber o final daquela narrativa, o rei decide não mata-la, e ela torna-se a primeira mulher a sobreviver à nova resolução do monarca.
No dia seguinte Xerazade faz uso do mesmo expediente, e o rei resolve poupa-la por mais uma noite. O enredo então se repete, e nesse ínterim, a noiva conta as mais diversas histórias ao monarca, dentre elas famosos contos que já fazem parte das fantasias de crianças, jovens, adultos e idosos pelo mundo todo, tais como a história de Aladin e da Lâmpada Mágica, de Simbad, o Marujo, de Ali Babá e os quarenta ladrões, e várias e várias outras, que encantam não apenas o governante, mas também o leitor que acompanha cada uma delas.
Ao fim da narrativa, o rei, arrependido de tudo o que fizera e apaixonado por Xerazade, resolve torna-la sua rainha, e poupa de uma vez por todas sua vida.
“As Mil e Uma Noites” é um livro carregado de emoção, que nos leva a viagens cheias de magia, seja a bordo de um tapete mágico, seja por travessias em meio a desertos e palácios encantados, onde nos deparamos com heróis, vilões, ladrões e marujos, príncipes e princesas que aguçam nossos sonhos e nossas fantasias, marcando nosso imaginário pelo resto de nossas vidas.
Vale a pena ser lido mil e uma vezes.

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Interestelar

Vamos de filme hoje, e esse é, de fato, um filme de outra galáxia.
Se tem algo que pode ser dito de Interestelar é que é uma obra completa em todas as suas vertentes. O filme engloba um elenco renomado, com atuações excelentes, uma trilha sonora que emociona e marca o espectador (Hans Zimmer em mais um trabalho magistral), a direção impecável de Christopher Nolan, e um roteiro que não merece um adjetivo que esteja abaixo de excepcional, escrito por Jonathan Nolan.
Interestelar consegue sintetizar em 2h40min de filme uma história emocionante, que apresenta reviravoltas eletrizantes, lições marcantes sobre como o amor pode ultrapassar até mesmo as barreiras do espaço e do tempo, além de dar uma verdadeira aula sobre as descobertas de Einstein, em especial a teoria da relatividade, publicada em 1905 pelo renomado Físico, e que afirma que o tempo e o espaço são relativos.
O roteiro se passa em um futuro não tão distante (datas não são definidas), em que a Terra é assolada por uma praga que está consumindo as plantas do planeta, o que faz com que a população seja drasticamente reduzida em virtude da falta de mantimentos para produzir alimentos suficientes para todos. A previsão é que em pouco tempo o próprio oxigênio se extinguirá, o que acabará acarretando na extinção da raça humana.
Neste contexto, conhecemos Cooper (Matthew McConaughey em uma de suas melhores atuações), um antigo e talentoso piloto da NASA que foi obrigado a tornar-se fazendeiro de grãos em virtude da crise pela qual passa o planeta. Viúvo, e morando em uma fazenda com sua filha Murphy (que terá papel essencial na história), seu filho Tom e seu sogro Donald, Cooper passa a presenciar estranhos eventos que se passam em sua residência, especificamente no quarto de Murphy, chegando a cogitar a existência de um fantasma em virtude de livros que constantemente caem da estante da garota.
No entanto, depois de analisar os padrões causados pelos fenômenos, Cooper atribui o fato à ação da gravidade, e consegue descobrir com a filha coordenadas criadas por tais eventos. De posse destas informações, ele marca as coordenadas em um mapa e sai em busca do que quer que exista na localização ali traçada, vindo a encontrar, para sua surpresa, uma estação secreta da NASA, que funcionava em segredo em virtude de a agência ter sido desativada pelo governo.
Nessa estação Cooper revê o Professor Brand (Michael Caine), um velho conhecido de sua época de piloto, que comanda experimentos no local junto à filha e também cientista Amelia Brand (Anne Hathaway).
Lá ele descobre que o projeto comandado pelo professor envolve a procura, em outra galáxia, de um planeta que possua condições de abrigar a raça humana, tendo em vista que em poucos anos o oxigênio e a alimentação na terra serão extintos.
O experimento consiste em uma viagem realizada por um grupo de cientistas para checar cada um destes planetas, e que chegarão a uma outra galáxia passando por um “buraco de minhoca” descoberto nas proximidades de Saturno.
Para quem não está familiarizado com a expressão, um “buraco de minhoca” é um termo popular utilizado para definir o que os cientistas chamam de “Ponte Einsten-Rosen”, que é uma espécie de deformação no espaço-tempo, um túnel que possibilitaria a viagem a pontos extremamente distantes do universo, ou seja, um tipo de atalho existente no espaço.
No filme, a NASA já enviara um grupo de cientistas pela passagem dez anos antes, mas não tinham obtido respostas, e uma nova equipe seria enviada quando Cooper descobre a localização da Agência Espacial secreta.
A coincidência é que naquele momento não havia um piloto qualificado o bastante para conduzir a nave na viagem, e Cooper surge exatamente quando eles mais estavam precisando, o que leva o Professor Brand a acreditar que ele fora enviado por seres misteriosos, definidos apenas como “Eles”, e que supostamente estariam ajudando os humanos naquela busca.
Convidado pelo Professor para liderar a missão, e ciente de que em caso de insucesso a humanidade poderia encontrar a extinção, por amor aos filhos Cooper aceita o encargo, o que revolta sua filha caçula, Murphy, especialmente diante do fato de que, em virtude da ação dos efeitos descritos na teoria da relatividade, ele pode voltar à Terra com a mesma idade de quando saiu, enquanto a garota terá envelhecido em virtude da distorção causada no espaço-tempo (não vou me alongar em uma explicação sobre esse fato pois isso levaria páginas e mais páginas, então indico que assistam o filme, que amarra bem as pontas e dá uma verdadeira aula sobre o tema).
Brigado com a filha Cooper viaja ao espaço em direção ao desconhecido, e é a partir daí que o coração acelera e as lágrimas começam a brotar dos olhos em virtude da sucessão de acontecimentos que se dão após a equipe passar pelo buraco de minhoca e começar a explorar os planetas que são candidatos a serem o novo lar da raça humana.
Uma cena em especial emociona, a reação de Cooper ao receber uma mensagem da filha, agora cientista e com a mesma idade que ele, o que indica que enquanto um curto período de tempo havia se passado para os tripulantes da nave, décadas tinham se passado na terra, fato que explora ao extremo a Teoria da Relatividade do Espaço-tempo de Einstein (assistam o filme que entenderão).
É a partir daí que o amor de Cooper pelos filhos o leva a decisões extremas em uma viagem emocionante na tentativa de salva-los, chegando ao ponto de enfrentar as consequências de aproximar-se do horizonte de eventos de Gargântua, um enorme e assustador buraco negro que existe nas proximidades dos planetas explorados.
A fidelidade do filme à teorias científicas é tamanha que a representação do buraco negro atende às descrições feitas por cientistas. O interessante é que em 10 de abril de 2019, uma data histórica para a ciência, foi divulgada a primeira foto já registrada de um buraco negro, e ela se assemelha bastante à representação utilizada na película.
O filme conta com reviravoltas emocionantes e revelações surpreendentes, especialmente quando Cooper descobre quem de fato era o “fantasma” no quarto da menina, que causava as quedas dos livros e que lhe dera as coordenadas para encontrar a estação secreta da NASA no início do filme, bem como quem são os seres definidos pelos cientistas apenas como “Eles”, e que estariam ajudando os humanos em toda aquela busca, merecendo destaque o reencontro entre pai e filha, que arranca lágrimas do marmanjo de coração mais duro.
Interestelar é de fato uma obra de arte, uma viagem emocionante até os confins das estrelas, que mostra como o amor, um sentimento não equacionável, como é definido no próprio filme, pode romper barreiras e sobreviver ao próprio tempo.
Querem um conselho? ASSISTAM!

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A Guerra dos Mundos

Mais uma fantástica história de H.G. Wells, “A Guerra dos Mundos” foi publicada inicialmente em capítulos em 1897, e é espantoso como até hoje a linguagem do escritor mostra-se tão moderna e atual, ainda que este livro tenha sido escrito há mais de um século.
Assim como em “A Máquina do Tempo”, também de autoria de Wells, o personagem principal da história não recebe um nome específico, e a narrativa, nesta obra, é feita em primeira pessoa, com o protagonista narrando todos os acontecimentos que envolvem a repentina e devastadora invasão dos marcianos ao nosso planeta.
A história se passa na Inglaterra, e tem início quando o narrador é convidado por um amigo para um observatório, e lá tem a oportunidade de vislumbrar várias explosões na superfície de Marte. Posteriormente, um meteoro cai nos arredores da residência do personagem, e logo descobre-se que as explosões que ele tinha visto tratavam-se na verdade de lançamentos realizados do planeta vermelho em direção à Terra, e os suspeitos meteoros eram na realidade cilindros abrigando marcianos e todo um aparato tecnológico que vinha com eles.
Logo que o primeiro cilindro é aberto descobre-se o real intuito dos visitantes, que passam a atacar os humanos com um maquinário devastador, matando diversas pessoas e destruindo boa parte da área ao redor. Conforme os dias passam, vários outros cilindros caem pela Inglaterra, e logo a população é apresentada aos Tripods marcianos, máquinas enormes com tripés e tentáculos, que fazem uso de um raio de calor que fulmina tudo o que toca.
O narrador então passa a fugir com a esposa, mas devido a circunstâncias que fogem ao seu controle, eles acabam se separando, e o protagonista passa por diversos apuros para sobreviver ao ataque devastador, presenciando o quase genocídio promovido pelos marcianos, em uma narrativa que assusta e impressiona o leitor.
A obra é tão espantosa que décadas depois de seu lançamento um fato curioso aconteceu. Em 30 de outubro de 1938, Orson Welles, o famoso cineasta, ator, diretor e produtor norte-americano, causou pânico ao interromper uma transmissão na rede de rádio CBS para noticiar uma invasão alienígena. Na verdade tratava-se de um texto adaptado de “A Guerra dos Mundos”, e tal fato foi esclarecido no início da transmissão. Entretanto, as pessoas que ligaram o rádio depois e não tiveram acesso à informação de que tudo não passava de ficção, entraram em pânico e saíram às ruas.
Estima-se que cerca de mais de um milhão de pessoas acreditaram que a história era real, e algo em torno de meio milhão de pessoas entrou em pânico, muitas delas congestionando as linhas telefônicas e outras saindo às ruas, causando congestionamentos e aglomerações que chegaram a paralisar três cidades.
Além da dramatização no rádio, “A Guerra dos Mundos” ganhou duas adaptações para a grande tela, uma em 1953 e outra em 2005, com Tom Cruise como protagonista.
Wells espanta com a forma como cria uma ficção que antecipa para sua época inventos que só seriam produzidos décadas depois, chegando mesmo a descrever uma espécie de arma química usada pelos marcianos para matar os humanos, e estabelece uma narrativa que mantém a atenção do leitor inteiramente presa nos acontecimentos que se desenrolam.
Além disso, encontra espaço para tecer uma crítica à arrogância da raça humana, que repentinamente se vê em apuros quando uma espécie com uma inteligência superior e uma tecnologia mais avançada passa a domina-la, mostrando que não somos tão superiores como imaginamos ser.
Merece uma leitura atenta e aprofundada, que levará o leitor a um outro mundo, cheio de ação, emoção, dando a ele muito em que pensar sobre nosso lugar nesta esfera azul perdida no espaço.

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O Iluminado

Quando se trata de Stephen King eu sou muito, mas muito suspeito para falar, uma vez que ele está no rol dos meus escritores favoritos. Apesar de ser considerado por muitos como o mestre do terror, King tem entre seus livros e contos histórias emocionantes, que cativam o leitor e chegam a arrancar dele risadas e lágrimas. Mesmo os títulos que mais assustam usam o medo como pano de fundo para contar uma história que envolve o ser humano comum e os problemas pessoais pelos quais ele passa.

Stephen King é o escritor que possui mais histórias adaptadas para o cinema e para a televisão, e tenho quase certeza que você, que está lendo este texto, já deve ter visto ao menos uma destas adaptações. Dentre as inúmeras obras levadas às telas estão O Iluminado, Carrie – A Estranha, It - A coisa, Cemitério Maldito, Sob a Redoma, Misery, Cujo, Christine (dentre as que assustam), e Novembro de 63, Um Sonho de Liberdade, À Espera de um Milagre, Conta Comigo e Joyland (dentre as que emocionam), lembrando que os títulos citados acima são apenas alguns da extensa lista deste tão aclamado escritor.

E para começar a falar de uma delas, vou citar exatamente o primeiro livro de Stephen King que li na vida, e uma de suas obras mais famosas, “O Iluminado”.

Escrito por King em 1977, “O Iluminado” narra a história da família Torrance, composta por Jack Torrance, o pai, um escritor com potencial pouco explorado e que em virtude da frustração com a carreira começa a ter problemas com o alcoolismo, Wendy Torrance, esposa de Jack, uma dona de casa que faz de tudo para manter a família unida, e Danny Torrance, um garoto de cinco anos, filho de Jack e Wendy, que possui dons sobrenaturais definidos no livro como “Iluminação”, vindo deste ponto o título da obra.

Jack, que está desempregado, recebe uma proposta de emprego no famoso Hotel Overlook, que fica nas montanhas rochosas, no estado do Colorado – USA. O trabalho consiste em cuidar do hotel no período do inverno, estação em que o lugar fica praticamente isolado do mundo em virtude das constantes nevascas que tornam impraticável o acesso ao local.

Aproveitando a oportunidade para conseguir um emprego e ao mesmo tempo ter a tranquilidade de que precisa para trabalhar em seu livro, Jack aceita o trabalho de pronto, e se muda para o hotel quando o inverno está prestes a começar. No local, eles conhecem o cozinheiro Dick Hallorann, que identifica de imediato o dom do pequeno Danny, uma vez que também possui os mesmos poderes, mas em menor escala que os do garoto.

É de Hallorann que vem a expressão “Iluminação”, no momento em que explica ao garoto, em uma conversa realizada por meio de telepatia, os dons que ele possui. Dick então aconselha Danny a evitar alguns locais do Hotel Overlook, locais que não possuem coisas boas, dentre eles o assustador quarto 217, que rende verdadeiros arrepios ao leitor no decorrer da história.

Hallorann então viaja de férias, deixando a família Torrance completamente isolada no Hotel Overlook. Ocorre que, como o cozinheiro dissera, o estabelecimento possui lugares onde coisas horríveis aconteceram no passado, e a iluminação de Danny parece acentuar as entidades que vivem no lugar, e que passam a caçar o garoto, usando seu pai, que possui problemas com álcool e agressividade, para atingir o menino.

É a partir daí que o leitor passa a ser acometido por, digamos, uma série de sustos e arrepios com o decorrer da história, em uma narrativa típica do próprio King, que consegue prender a atenção de quem está lendo o livro, e que nos banqueteia com verdadeiras reviravoltas e momentos emocionantes, chegando a um final surpreendente, que eu não vou contar aqui porque com certeza vocês terão vontade de ler o livro.

Assim como a maioria das obras de Stephen King, O Iluminado também foi adaptado tanto para o cinema como para a tv, sendo filmado para as telonas por ninguém menos que Stanley Kubrick. O problema é que Kubrick deu uma visão própria à história, mudando muita coisa da narrativa original, o que desagradou o próprio King, que nunca escondeu ter detestado a película.

Recentemente chegou aos cinemas “Dr. Sono”, baseado na obra de King, que narra a história do pequeno Danny, agora um adulto, décadas depois dos trágicos acontecimentos no Hotel Overlook. Infelizmente o filme padece do problema de ser uma continuação da obra filmada por Kubrick, o que faz com seja obrigado a abandonar boa parte dos elementos contidos no novo livro, que também é ótimo, mas que ainda assim não chega a superar o original.

E o que posso dizer de “O Iluminado”? O mesmo que direi de todos os livros e contos de Stephen King. Leiam! Emocionem-se. E se preparem para olhar para trás várias vezes no silêncio do seu quarto ou de sua sala, tomados pelos inúmeros arrepios que essa obra genial causará em vocês.

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O Poderoso Chefão

A presente seção foi criada para falar sobre filmes e livros com os quais tive a oportunidade de enriquecer meu conhecimento, e como até o momento só tinha abordado as obras literárias, não vejo escolha melhor para começar a tratar da sétima arte que não seja um filme épico, que está no topo do pódio das melhores películas já feitas no cinema, O Poderoso Chefão.
Baseado no livro de Mario Puzo escrito em 1965, que recebeu o título de “The Godfather” (o padrinho, em tradução livre), O Poderoso Chefão, filme de 1972, narra a história de Dom Vito Corleone, um dos chefes das cinco famílias que comandam a máfia no estado de Nova York e em outras regiões dos Estados Unidos na década de 40.
Tanto o livro como o filme nos apresentam os membros da família Corleone, que terão papel fundamental na obra original, bem como nas sequências que foram feitas com o decorrer do tempo. Entre os filhos do Dom estão Santino Corleone, apelidado de Sonny, o mais velho, temperamental e que ocupa o primeiro lugar na linha sucessória do comando da família, seguido de Frederico Corleone (Fredo), Michael Corleone (Mike), que figurará futuramente como o personagem mais importante da obra, e Constanza Corleone (Connie), havendo também Tom Hagen, um menino de rua que é acolhido por Vito, e que depois que cresce acaba se tornando conselheiro do Dom e advogado da família.
A parte inicial do filme nos apresenta a família e a importância do Dom na comunidade nova-iorquina, bem como os costumes da máfia nos cumprimentos e no tratamento com o chefão, ou padrinho, tratamento respeitoso que recebe dos mais próximos. A história também mostra o quão Michael, o caçula dos filhos homens, mostra-se reticente quando à atuação do pai, esquivando-se de envolver-se naquele ambiente e no modus operandi da máfia.
No entanto, com o decorrer da história, Michael acaba vendo-se obrigado a envolver-se de cabeça naquele ambiente, o que acabará mudando sua vida para sempre.
O filme é impecável em todos os aspectos, desde o figurino até os cenários, passando por uma trilha sonora épica e inesquecível e atuações magistrais de Marlon Brando, como Vito Corleone, que inclusive lhe rendeu um Oscar de melhor ator em 1973, e Al Pacino, como Michael Corleone, papel pelo qual recebeu uma indicação ao Oscar de melhor ator coadjuvante naquele mesmo ano.
Além disso, a história expõe de forma extremamente fiel como agia a famosa “Cosa Nostra”, ou máfia italiana, mostrando seu modus operandi, seus costumes e as tradições sicilianas, tudo graças à fidelidade que a película tem para com o livro de Mario Puzo, uma obra cheia de excelência da qual falarei posteriormente.
O Poderoso Chefão é inclusive uma das poucas adaptações que não apenas respeita o livro no qual se baseou, mas também chega perto de igualar-se àquela obra literária em termos de qualidade.
Querem ver um filme excelente, com uma história magistral e atuações inesquecíveis? Então, adaptando uma das principais frases do Dom, farei uma proposta que vocês não poderão recusar. Assistam o Poderoso Chefão e se encantem com essa obra prima de Francis Ford Copolla, baseada no livro inestimável escrito por Mario Puzo.
Vocês não vão se arrepender.

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O Retrato de Dorian Gray

Publicado em 1890, O Retrato de Dorian Gray é o único romance escrito por Oscar Wilde dentro de sua extensa lista de obras publicadas. O livro narra a trágica história de Dorian Gray, um jovem puro e inocente, que chama a atenção pela beleza singular que possui, não dando, no início, tanta importância a essa peculiar característica.

A história de Dorian sofre uma guinada quando está posando como modelo para um quadro do célebre pintor Basil Hallward, oportunidade em que conhece um dos amigos deste último, Lorde Henry Wotton, famoso por seu apego aos vícios e à boemia. É a partir dos diálogos com Lorde Henry que Dorian passa a ter noção do tamanho de sua beleza, e passa a ficar obcecado com a ideia de permanecer sempre jovem e belo.

Tal obsessão é consideravelmente ampliada quando Dorian vê o seu retrato pintado por Basil, quadro que é considerado uma obra prima por aqueles que o veem. No entanto, o jovem se revolta ao perceber que um dia envelhecerá e perderá o viço da mocidade e a beleza da juventude, ao passo que o quadro permanecerá belo e jovem para sempre.

É nesse momento que Dorian, em seu íntimo, faz um desejo nada usual, o de que a velhice e as agruras da vida não recaiam sobre ele, mas sim sobre o seu retrato, para que assim possa ficar jovem e bonito para sempre.

Daí em diante, o rapaz cai em uma vida de vícios e perversões, vindo a descobrir posteriormente, para seu espanto e incredulidade, que seu pedido fora de fato atendido, e que todas as suas aventuras resultavam na corrupção da imagem pintada no retrato, enquanto que os dedos sujos de suas atitudes pervertidas em nada atingiam sua beleza e sua juventude.

Movido pela perversão e pelo apego à própria beleza, Dorian Gray comete os mais absurdos pecados, vindo a colher posteriormente os frutos de todos os erros cometidos em suas andanças.

O Retrato de Dorian Gray aborda de uma forma direta e detalhada a era Vitoriana na Inglaterra e o apego que a aristocracia daquela época tinha pela beleza e pelo hedonismo, condição esta que pouco foi modificada com o passar do tempo, mas apenas foi acentuada pela busca incessante da imagem perfeita que tanto vemos nos dias atuais, onde uma grande parcela da população busca não apenas a satisfação própria com a aparência, mas também, e principalmente, a admiração alheia.

Dorian Gray, que antes fora um jovem inocente e sem malícia, inconsciente da extensão da própria beleza, acaba cedendo à visão de mundo cínica e hedonista de Lorde Henry, passando a ficar obcecado pelo apego à autoimagem e à juventude eterna, da mesma forma que muitas pessoas até os dias atuais cedem perante o desejo de parecerem perfeitos aos olhos dos outros na busca incessante e muitas vezes doentia da adequação a um padrão de beleza eleito pela sociedade.

Um romance revestido de crítica social, repleto de reviravoltas, e que prende a atenção do leitor até as surpresas que são reveladas no final.

Leiam e admirem, da mesma forma que Dorian admirava o próprio retrato.

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A Máquina do Tempo

Escrito por H.G. Wells e Lançado em 1895, A Máquina do Tempo narra a história de um cientista inglês do século XIX, descrito apenas como “O Viajante do Tempo”, que cria um mecanismo capaz de circular pela quarta dimensão, conhecida como a dimensão do tempo, deslocando-se assim através das eras. Para demonstrar o sucesso de seu invento, o personagem convida outras pessoas para mostrar como a viagem é feita, sendo um destes convidados o narrador dos acontecimentos.
Com a máquina, o cientista viaja até o ano de 802.701 d.c, chegando a um tempo onde o planeta está inteiramente modificado, e duas espécies dividem a terra entre si, os pacíficos Elois, remanescentes dos seres humanos, pessoas inocentes, belas e que vivem em contemplação, não enxergando os perigos que os circundam, e os Morlocks, uma raça violenta e amedrontadora, que vive no subterrâneo e se alimenta dos Elois.
Curioso com aquela nova realidade, “O Viajante do Tempo” se mistura aos Elois, estudando os curiosos hábitos daquele povo e o seu desapego por bens materiais. Ao voltar para o local onde deixara a máquina, o cientista descobre, para seu espanto, que ela sumira, sendo recolhida pelos Morlocks, momento em que deverá deparar-se e enfrentar essa assustadora espécie para tentar voltar à sua própria época, passando por inúmeros percalços até conseguir recuperar seu invento.
Depois de conseguir escapar dos Morlocks, o cientista viaja ainda mais para o futuro, deparando-se com um planeta praticamente deserto, onde a raça humana já não mais existe.
Considerado um ícone da ficção científica, A Máquina do Tempo é uma obra inovadora, à frente de seu tempo, que apresenta conceitos modernos sobre esse tipo de viagem, que tanto mexe com o imaginário popular, além de tecer uma crítica aos rumos que a sociedade está tomando, o que pode ser visto na forma como aborda a divisão de castas que vê-se no futuro, bem como a definição dos Morlocks, uma raça de seres mal vistos, que vivem no subterrâneo, separados dos belos e inocentes Elois.
O livro também aborda o tão temido destino da raça humana, mostrando que inevitavelmente ela deixaria de existir no futuro (apesar de não narrar os motivos que levaram ao seu sumiço), deixando para trás um planeta terra deserto e vazio.
Uma obra que merece ser lida e apreciada não apenas pelos fãs de ficção científica e viagem no tempo, mas por todos que gostam de uma boa história, recheada de elementos que transitam em diversas vertentes, seja na área científica, seja na social, ou seja, uma verdadeira viagem que o autor nos permite fazer em nossa imaginação.

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Um Conto de Natal


Escrito por Charles Dickens e publicado em dezembro de 1843, “Um Conto de Natal” ou “A Christmas Carol” é uma das obras literárias mais adaptadas para as mais diversas mídias, tendo sido representada ao longo dos séculos em peças, desenhos, animações e cinema mundo afora.

O livro conta a história de Ebenezer Scrooge, um velho rico, avarento e rabugento, que trata mal todas as pessoas que conhece, e que nutre um verdadeiro repúdio pelo natal e tudo o que envolve essa época.

No entanto, exatamente na véspera de Natal, o velho Scrooge é visitado pelo espírito de seu antigo sócio Jacob Marley, que morrera há exatos sete anos. Jacob, um fantasma perturbado que arrasta as correntes que representam seus pecados em vida, aparece para alertar Scrooge, avisando-o de que está indo pelo mesmo caminho que ele, e que dentro em breve receberá a visita de outros três espíritos, o do Natal passado, do Natal presente e do Natal futuro.

Na noite seguinte, o velho Scrooge recebe, conforme alertara seu antigo sócio, a visita do primeiro espírito, o do natal passado, e é carregado por ele em uma viagem que mostra episódios pretéritos de sua vida. Desde sua infância pobre, até o amor abandonado na juventude, mostrando ao avarento homem todo o caminho que percorrera até transformar-se em uma pessoa tão desagradável.

Depois da visita, Ebenezer acorda novamente em seu quarto, achando que tudo aquilo não passara de um sonho, mas logo em seguida recebe a visita do fantasma do natal presente, que lhe mostra tudo o que está se passando naquele exato momento, mas com as pessoas da convivência do velho Scrooge.

Ele então vê a realidade triste e pobre de seu funcionário, Bob Cratchit, o qual trata tão mal, pagando-lhe uma miséria de salário e exigindo que trabalhe incessantemente. Enxerga a pobreza de sua família, agravada pelos problemas de saúde do jovem Tim, o filho caçula de seu empregado, e que mesmo com todos aqueles desafios, aquelas pessoas mantêm a alegria e o sorriso no rosto por estarem juntos no natal.

Com o fantasma Ebenezer também visita, tudo isso sem ser visto, a casa de seu sobrinho, filho de sua única irmã, a quem tanto amara, e vê como é desprezado e repudiado pelos amigos e pela família do jovem, sendo logo depois jogado de volta em seu quarto no fim de mais uma jornada.

Já nervoso com aquelas revelações, e com o peito cheio de sofrimento, Ebenezer recebe a visita do último espírito, e o mais aterrorizante deles, o fantasma do natal futuro, que mostrará ao velho Scrooge em que resultará sua vida acaso continue agindo daquela forma.

Ao fim da visita Scrooge se vê novamente na solidão de seu quarto, agora com uma decisão a tomar depois de tudo o que presenciou. Continuar a ser o velho avarento e desagradável, odiado pela maior parte das pessoas, ou mudar e se tornar o que fora um dia, uma pessoa amável, altruísta e que, segundo a opinião que se formaria, um homem que sabia festejar o natal como ninguém.

Um Conto de Natal é uma obra cativante, na qual Dickens nos faz ver no próprio Ebenezer Scrooge os nossos defeitos e nossas possibilidades de mudança. Com ele, somos também visitados pelos espíritos dos natais passado, presente e futuro, para que possamos promover uma auto avaliação das decisões que tomamos em nossas vidas, dos erros que cometemos e da constante possibilidade de mudar para melhor.

Porque o que representa o Natal, senão o nascimento Daquele que veio ao mundo para nos salvar? A cada Natal, podemos renascer com Cristo, para sermos pessoas melhores, deixando para trás os nossos erros e passando a andar pelo caminho certo, como o fez o velho Ebenezer.

E nas palavras do pequeno Tim, para quem Scrooge se tornou um segundo pai...

Um Feliz Natal, e que DEUS abençoe a cada um de nós.

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Dom Quixote


“Dom Quixote de La Mancha” é uma obra criada por Miguel de Cervantes, escritor espanhol que viveu entre os anos de 1547 e 1616. O livro conta a história de um velho fidalgo, admirador de contos que narram aventuras cavaleirescas e que, com o avanço da insanidade que aos poucos vai tomando conta de sua mente, passa a acreditar tratar-se de um nobre cavaleiro, e parte em busca de suas próprias aventuras.

No decorrer da jornada, encontra-se com uma das personagens mais engraçadas da trama, o fiel e paciente Sancho Pança. Junta, essa dupla peculiar vive as situações mais inusitadas, arrancando gargalhadas do leitor que se aventura com eles. A descrição das duas figuras e de seus comportamentos por si só já é cômica, e só de imaginar os dois juntos, o desejo de rir já vem à tona, tornando-se incontrolável a partir do momento em que se passa a ter conhecimento das peripécias vivenciadas por ambos.

Outros personagens também são dignos de nota, como o pobre alazão “Rocinante”, que só é visto como tal pelo olhar sonhador de seu dono, tratando-se, na verdade, de um velho e sofrido cavalo que mal se aguenta em pé, além da musa do velho cavaleiro, a belíssima Dulcinéia, cuja beleza é mais um efeito da loucura de Dom Quixote do que uma realidade, fato este que apenas aumenta ainda mais a graça da trama.

Em dados momentos, mesmo em meio a tantos sorrisos, Cervantes chega a nos arrancar uma ou outra lágrima, tamanho é o seu talento para unir comédia e drama em uma só obra, e o velho Dom é tão carismático que mesmo em nossa sanidade acabamos torcendo para que deem certo as loucuras deste velho e simpático cavaleiro.

“Dom Quixote de La Mancha” é uma obra para ler, reler e saborear aos poucos, aproveitando as loucas aventuras desse velho fidalgo, que mesmo no ápice de sua loucura acaba revelando a nobreza e a hombridade que poucas pessoas sãs possuem.
Leiam, riam, chorem, e enlouqueçam enquanto cavalgam com esse nobre cavaleiro pelos campos de seu imaginário.

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A Ilíada

A Ilíada narra a origem, desenrolar e as consequências da guerra de Tróia. Escrita em forma de poema épico por Homero, célebre poeta grego, que acredita-se que tenha vivido por volta do século VIII A.C, e que também é autor da Odisséia, a Ilíada apresenta ao leitor uma história que, mesmo após milênios, perdura até hoje.
A narrativa se inicia com uma disputa entre as deusas Afrodite, Hera e Athena, para saber qual delas era a mais bela. Para decidir o impasse, Zeus escolhe Páris, príncipe troiano, que acaba optando por Afrodite, em virtude de esta lhe prometer como recompensa o amor da mulher mais bela do mundo.
A mulher mais bela do mundo era Helena, que havia se casado com Menelau, rei de Esparta. Posteriormente, Páris viaja a Esparta em missão diplomática e se apaixona por Helena, que foge com ele para Tróia. Menelau, furioso, convoca os demais líderes e antigos pretendentes de Helena, e pede para que honrem uma promessa que haviam feito anteriormente, de que protegeriam a princesa e a escolha que ela fizesse quanto ao pretendente.
Liderados por Agamenon, rei de Micenas e irmão de Menelau, os gregos cruzam o mar Egeu e cercam Tróia, iniciando uma guerra que duraria dez anos. Entre os gregos, podemos encontrar célebres personagens, como Odisseu ou Ulisses, personagem principal de outra obra de Homero, a Odisséia, que narra a volta do mesmo à sua terra, Ítaca.
Homero também no apresenta Aquiles, o mais famoso e o melhor dos guerreiros da época, filho do Rei Peleu e da deusa marinha Tétis, que quando criança havia sido mergulhado por sua mãe no rio Estige, para que se tornasse imortal.
Porém como Tétis segurara Aquiles pelo calcanhar, esta foi a única parte de seu corpo que não foi banhada nas águas, e, portanto, era o único ponto vulnerável do guerreiro, originando assim, a famosa expressão “calcanhar de Aquiles” para se referir ao ponto fraco de alguém.
Um dos pontos principais da trama é a batalha entre Aquiles e Heitor, príncipe de Tróia, que havia matado Pátroclo, melhor amigo de Aquiles. Furioso, o grego desafia Heitor para um combate mortal diante das muralhas troianas.
Mas mesmo diante da enorme gama de personagens que a trama apresenta, talvez o mais famoso seja um que não tenha vida própria, o enorme cavalo de madeira que os gregos constroem para ludibriar os troianos e finalmente conseguir entrar na cidade.
A ideia, desenvolvida por Ulisses, foi de construir um cavalo de madeira e deixar na praia de Tróia. O troianos, em comemoração à suposta desistência dos gregos após anos de guerra, levam o cavalo para dentro de suas muralhas sem saber que dentro dele se escondiam vários soldados inimigos.
O fato deu origem a outra expressão, a famosa “presente de grego”, utilizada até hoje para se referir a presentes um tanto que indesejados.
Nesse ponto, esqueçam um pouco Brad Pitt e a versão hollywoodiana da Ilíada. Muita coisa é modificada no filme, especialmente a origem principal de toda a guerra e o final de alguns personagens. Sem esquecer do fato de que o cerco a Tróia durou dez anos, o que não é retratado na película. Além disso, na obra de Homero os deuses têm participação direta em vários momentos, o que também foi deixado de lado no cinema.
A Ilíada é um livro excepcional, um poema épico, com narrativas emocionantes e personagens memoráveis. Uma história tão boa que sobreviveu praticamente incólume à passagem dos milênios. Vale a pena ser lido e relido.

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